segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sinergismo e Monergismo


Introdução
             O tema clássico entre a teologia agostiniana e todas as formas do pelagianismo concentra-se num aspecto da ordem da salvação (ordo salutis): qual é a relação entre regeneração e fé? A regeneração é uma obra monergística ou sinergística? Uma pessoa deve primeiramente exercer a fé a fim de nascer de novo? Ou o novo nascimento deve ocorrer antes da pessoa estar apta para exercer fé? A graça da regeneração é operante ou cooperativa? A regeneração como vemos acima, ela têm muitas indagações, e é muita complexa para quem quer estudar bem aguçadamente. Mas o que é monergismo e sinergismo?
A regeneração monergística significa que ela é alcançada por um simples protagonista, Deus. Siginifica literalmente obra de único ser. O sinergismo, por outro lado, refere-se à obra que envolve a ação de duas ou mais partes. ou seja, a graça é um assitente de Deus, como um ingrediente necessário mas dependente da cooperação humana para a sua eficácia. E é nesse tema que vou desenvolver meu trabalho sobre regeneração, citando os ensinos de alguns eruditos consagrados na teologia cristã.

Sinergismo
     
       O sinergismo teve princípio com os ensinamentos de Pelágio, um monge britânico que engajou num debate ardente com Agostinho na igreja primitiva. De acordo com os ensinamentos de Pelágio, ele pregava o seguinte: que Deus não havia ordenado nada impossível, que o homem possuía o poder de fazer o bem se assim o desejasse e que a fraqueza da carne era meramente um pretexto. Ele também acreditava que a ordem de obedecer implicava habilidade para obedecer. Isso se aplicaria não apenas à lei moral de Deus, mas também aos comandos inerentes ao evangelho. Se Deus ordena que as pessoas creiam em Cristo, então elas devem ter o poder de crer em Cristo sem a ajuda da graça. Se Deus ordena que os pecadores se arrependam, eles devem ter a habilidade de se inclinarem para obedecerem ao comando. Por meio do seu próprio esforço, o homem pode alcançar tudo o que se requer dele na moralidade e na religião. Pelágio ensinava que, se Deus é completamente bom, então tudo o que criou é igualmente bom. Toda sua criação é boa, incluindo o homem. E o homem dotado com razão e livre arbítrio. Com sua razão, ele deveria ter o domínio sobre todas as criaturas irracionais; com seu livre arbítrio, ele deveria servir a Deus. E essa liberdade, não poderia ser perdida. Pelo contrário é a base única da relação ética do homem com Deus. Esse livre arbítrio consiste essencialmente na habilidade de se escolher entre o bem e o mal. E é um aspecto essencial da natureza constituinte do homem.
Segundo Pelágio; a vontade do homem é como uma tabula rasa perpétua, que o homem poderia escrever tudo que lhe agrada; e depois de cada decisão poderia reverter-se à indecisão. Ou seja, a vontade do homem não passou por uma mudança e nem por uma deformação. O homem não foi corrompido, e nem há uma inclinação para o pecado. O homem por si só pode voltar para um novo começo, como se nada tivesse acontecido.
Para Pelágio a natureza humana não poderia ser alterada, e sim modificada acidentalmente. Ou seja, o comportamento de alguém pode ser mudado quando ele comete atos pecaminosos, mas essas ações não mudam a natureza desse alguém. Por que ele acreditava dessa forma? Por que ele definia o pecado como um desejo de fazer o que a justiça proíbe, do qual somos livres para nos abstermos e, assim, podemos sempre evitá-lo pelo exercício adequado da nossa vontade. O pecado não poderia se transformar em natureza, ele sempre é um ato e nunca uma natureza. Se o pecado fosse natureza; Deus seria o autor do mal. E a sua justiça e bondade estariam destruídas.
Essa doutrina sinergista, que fala sobre a vontade do homem em crer ou repudiar o chamado de Deus; é enfatizado pelo Tiago Armínio em seus ensinamentos, que declara: todas as pessoas não-regeneradas têm liberdade de vontade e uma capacidade para resistir ao Espírito Santo, para rejeitar a oferta da graça de Deus, para desprezar o evangelho da graça e para não abrir àquele que bate à porta do coração; e essas coisas eles realmente podem fazer sem qualquer diferença entre o eleito e o reprovado. Armínio diferenciava a graça entre a graça suficiente e a eficiente: a graça suficiente provê tudo que o pecador necessita para ser salvo. Porém essa graça suficiente, por falha daquele a quem é recebida nem sempre obtêm o seu efeito, por isso a justiça de Deus não poderia ser defendida quanto à condenação daqueles que não crêem. E a graça eficiente, diz que Deus age de uma forma tão íntima no coração e mente do homem que aquele no qual o ato foi concedido, ele nada pode fazer além de consentir com Deus que o chamou. Armínio diferenciava do conceito reformado de Calvino e Lutero sobre a graça, Pois eles acreditavam que a graça era irresistível; porque, quando Deus chama, todos cedem ao seu chamado. Já Armínio acreditava que a graça é resistível. Pois o homem pode resistir a Deus.
            Tiago Armínio acreditava que a graça capacita o homem a submeter-se a Cristo, mas não a desejar. O pecador só é capaz de desejar; através do Espírito Santo. Pois é obra de Deus conceder a graça; e consentir com ela é obra do homem, que agora tem o poder de cooperar ou não com ela. Assim conforme a crença de Armínio pode concluir que ele acreditava que o poder para crer e se converter é concedido, de forma irresistível, mas o próprio ato de crer e se converter pode ser produzido ou impedido pela vontade humana.

Monergismo

             Agostinho busca responder à pergunta: o que é necessário para o homem caído “recuperar-se para o bem e para Deus”? Como uma criatura que é má se recupera dessa condição e se torna boa? Como uma criatura que e alienado de Deus e indisposto com a relação a Deus, encontra seu caminho de volta para Deus? Essas questões são supremas para um entendimento da salvação. Para Agostinho, a resposta para elas estava na graça de Deus. Para Agostinho a graça é livre porque não é merecida e nem conquistada. É indispensável porque é a condição necessária para recuperação. É preveniente porque deve vir antes que o pecador possa se recuperar. É irresistível porque é eficaz, executando o propósito de Deus ao dá-la. É infalível porque essa liberação de graça é perfeita, sem falhas. A dádiva da graça é ligada ao propósito eterno de Deus e é intimamente vinculada ao seu propósito da predestinação.
Agostinho afirmou que a vontade do homem era tanto livre quanto boa, servindo a Deus com disposição e grande satisfação. Ou seja, a vontade é verdadeiramente livre quando não é escrava de vícios e pecados. E foi essa vontade que Deus tinha dado ao homem, mas foi perdida pelo próprio erro, só pode ser restaurada por meio daquele que foi capaz de dá-la em primeiro lugar. Para que viemos entender sobre a graça é preciso saber sobre a originalidade da criação do homem; e para o nosso entendimento vou citar os argumentos de Agostinho.
Na criação, disse Agostinho, o homem tinha a posse peccare ( capacidade para pecar) e a posse non peccare ( capacidade para não pecar). Mesmo nesse estado, havia a assistência divina disponível para ele. Essa assistência graciosa capacitava Adão a continuar em seu estado original, mas não o compelia a perseverar nele. Adão tinha a posse non peccare ( capacidade para não pecar) mas não a non posse peccare ( incapacidade para não pecar). Na criação, adão tinha a possibilidade, mas não a necessidade de pecar. Agostinho argumenta que o homem não apenas tinha a capacidade para não pecar como tinha a capacidade para agir assim facilmente. Em vez disso, ele violou o comando de Deus de Deus e experimentou a horrível queda. E com isso veio as suas conseqüências.
Com a queda, o homem perdeu a liberdade. Na criação o homem tinha a inclinação para positiva para o bem e para amar a Deus. Embora fosse possível que o homem pecasse, não havia a necessidade moral para que o agisse assim. Como resultado da queda, o homem passou a ser escravo do mal. A vontade caída tornou-se uma fonte de mal no lugar de uma fonte do bom. Depois da queda o homem tornou-se livre pecar, porque ele tornou-se servo do pecado. E todo servo do pecado serve seu mestre de boa vontade. Ele faz com prazer a vontade do seu mestre. Para que o pecador se mova da escravidão para liberdade, Deus precisa exercer a sua graça. Agostinho disse que antes de ser redimido, o homem ainda não é livre para fazer o que é certo. Essa capacidade vem pela graça mediante a fé. Agostinho, então, trabalha o ponto em que a liberdade não vem da ação do homem, pois ele é escravo do pecado. Mas a liberdade é um dom da graça divina. É Deus quem prepara o coração para crer. Frequentemente se diz que a visão de Agostinho é de que Deus salva o povo que não deseja ser salvo, ou que sua graça opera contra a vontade desse povo, forçando-o a escolher e levando-o para o seu reino debatendo-se e gritando contra sua vontade. Mas a visão da graça que Agostinho argumenta é que a graça de Deus opera no coração de tal modo que faz com que a relutância anterior do pecador se transforme em boa vontade. A pessoa agora deseja Cristo porque Deus criou um novo espírito dentro dela. Deus faz com que a vontade seja justa removendo a dureza do coração e convertendo a vontade oposta.
A visão de Agostinho da graça que liberta está ligada à sua visão de predestinação. Ele argumenta que Deus converte os desejos maus em desejos bons. Ele faz isso pelos eleitos. Evitando qualquer visão de eleição baseada no conhecimento prévio de quem iria crer.
Calvino escreve que o homem, é voluntário da prática do pecado, e isso o torna sem vontade, e ele não pode mover-se e agir a não ser em direção ao mal. E a necessidade de pecar é visível na vida do homem. A libertação do pecado que Deus proporciona ao pecador. Calvino cita a carta de Paulo aos filipenses, na qual o apóstolo fala de Deus tendo começado a boa obra entre nós (Fl 1.6). Calvino interpreta isso como o início da conversão na vontade. A obra do Espírito na vontade é o que inicia conversão a Cristo. Ou seja, a boa obra do Espírito exerce em nosso coração um desejo, um amor e uma preocupação com a justiça; desviando, treinando e guiando o nosso coração para justiça. Calvino claramente não pretende ensinar que a vontade é destruída na conversão. Antes, ela é mudada na sua orientação. A direção é mudada. Considerando que a vontade não-convertida é dirigida somente para o mal, a vontade regeneradora é agora dirigida para Deus.

Conclusão

O novo nascimento é um milagre. É a ação bendita do Espírito Santo que produz vida onde imperava a morte e a condenação. É a causa que gera a mudança de vida; a disposição para deixar tudo, negar a si mesmo, tomar a cruz e seguir após o Senhor Jesus Cristo. É o que possibilitou o apóstolo bradar que o mundo para ele estava crucificado e ele para o mundo. Só o novo nascimento pode abrir os ouvidos para que ouçamos a Palavra de Deus e a recebamos; só a mente regenerada pode atinar para o ensino que para este mundo é loucura. A salvação é a principal das bênçãos. É o que nos concede acesso ao Pai, por meio de Cristo Jesus, sem que sejamos consumidos e a nossa existência contada entre os transgressores. O novo nascimento amplia os horizontes; dá sentido à vida, conforma-a à imagem de Cristo; torna-a proveitosa para a causa do reino e sua perda na verdade é ganho, pois ascende-nos à presença gloriosa d’Aquele que é a suma de todas as coisas e o fim maior de nossa existência. A igreja de Cristo só pode ser constituída daqueles que experimentaram a bênção da nova criação; é a militância dos servos que exalam o perfume do Salvador, que batalham num mundo cruel contra as hostes de um inimigo feroz e irado, porém derrotado. O novo nascimento é a dádiva do Pai, em Cristo, outorgada e confirmada pelo Espírito, que nos dá vitória final sobre a morte.



Teologia Relacional


Introdução

             O objetivo desse artigo foi esclarecer sobre a Teologia Relacional com seus ensinos errôneos, bem como avaliar esses ensinos a partir de alguns resultados práticos de acordo com suas reivindicações para a igreja contemporânea. Infelizmente a perspectiva desses ensinos não se apresenta nem bíblica nem pastoralmente eficiente. Dessa forma a primeira coisa a ser estabelecida deve ser o espaço que os seus defensores possuem no contexto evangélico. Nesse sentido, há os que defendem que eles não possuem espaço algum, pois suas propostas são incompatíveis com a inerrância bíblica. Outros reivindicam mais tolerância com aqueles que pensam de modo diferente. Clark H. Pinnock, em um de seus primeiros livros sobre o teísmo aberto, levantou essa questão, da seguinte forma: Por que estabelecer a linha divisória na onisciência divina? Por que não pode um evangélico propor uma perspectiva diferente acerca desse assunto? Que concílio de igreja declarou isto uma impossibilidade? Desde quando esse assunto se tornou um critério quanto à ortodoxia ou não-ortodoxia, evangélico ou não-evangélico? O que Pinnock parece ter esquecido é que a doutrina de Deus é central à fé cristã e qualquer reformulação em um aspecto da mesma implica não necessariamente em uma reformulação, mas em confusão. O pregador canadense A. W. Tozer entendeu corretamente a importância da doutrina sobre Deus ao dizer: O assunto mais sério para a igreja sempre foi o próprio Deus e o fato mais solene sobre qualquer homem não é o que ele diz ou faz em alguns momentos, mas como ele, no mais íntimo de seu coração, concebe Deus. Dessa forma, ao propor uma redefinição da onisciência de Deus, os teólogos da Teologia Relacional colocam-se fora dos limites do cristianismo clássico e caminham por rotas tenebrosas.

TEOLOGIA RELACIONAL

             Uma das primeiras tarefas na análise de um movimento, social ou religioso, é a tentativa de se compreender sua origem e evolução. Um dos problemas encontrados neste sentido é que o investigador pode acabar em um labirinto, dependendo do número de fontes usadas na reconstrução do movimento. No caso da Teologia Relacional, ela aparenta ser simplesmente um desenvolvimento lógico do arminianismo, uma vez que representa o livre-arbítrio humano levado às últimas conseqüências. Contudo, ela vai muito além do arminianismo ao defender uma reinterpretação teísta, limitando a onisciência de Deus e geralmente entendendo um aspecto do ato da encarnação ocorrido com a segunda pessoa da Trindade como uma característica do Deus triúno. Assim, é muito comum a ênfase sobre o Deus que se esvaziou para relacionar-se com o ser humano, sem uma clara distinção de quem se submeteu a tal processo e sem uma explicação clara de que antes da encarnação também havia relacionamento de Deus com o homem. Como já foi observado, o termo “Teologia Relacional” começou a ser empregado no Brasil pelo pastor e escritor Ricardo Gondim Rodrigues, que propôs ousadamente um credo no qual Deus soberanamente decidiu abrir mão de parte de sua onipotência, quando criou seres à sua imagem e semelhança. Ele se tornou fraco porque quis abrir espaço para se relacionar conosco em amor. Além do mais, Gondim ainda defendeu a possibilidade de se ler a Bíblia com outros óculos além daqueles utilizados pelo teísmo clássico.  A proposta visava à leitura da Bíblia da mesma forma que faziam outros segmentos cristãos ao redor do mundo, os quais, segundo ele, eram constituídos por pensadores e teólogos que procuram afastar-se do Deus-potência concebida nos paradigmas medievais, para o Deus-relacional e afetuoso que Jesus de Nazaré revelou aos homens. Além do mais, Gondim insistiu que só é possível pensar em verdadeira relacionalidade se, em sua Graça, Deus conceder aos seres humanos liberdade real para cooperarem ou contrariarem a sua vontade para suas vidas. Numa Teologia Relacional, Deus ama numa interação verdadeira com os seus filhos.          
              A princípio, as idéias de Gondim pareciam limitadas aos seus escritos e discursos. Curiosamente, porém, noções semelhantes começaram a aparecer em outros setores, defendidas por líderes de diferentes segmentos evangélicos. Bráulia Ribeiro, missionária da JOCUM e também articulista da revista Ultimato, esboçou sua preferência pela limitação de Deus para relaciona-se com seres humanos livres, mostrando-se disposta a aceitar, inclusive, uma redefinição da onisciência. Outro autor que tem expressado idéias semelhantes é o batista Darci Dusilek, o qual afirma: “Aquele que pensa que o destino de cada homem já está fixo e determinado de antemão se mostra estranhamente insensível ao clamor do coração e ao ritmo do pulso no Novo Testamento”. Mais recentemente, Ed René Kivitz tem expressado sua proposta de uma reflexão teológica; na qual deve ser deixado de lado “aquilo que Deus é em termos de sua perfeita natureza eterna, e focar sua atenção na maneira como Deus escolheu revelar e se relacionar com as pessoas na história”. Neste caso, os olhos do teólogo devem “deixar de lado a visão ideal e abstrata da filosofia, e se voltar para Jesus Cristo, suas ações e palavras, que revelam o Pai”. Aliás, em seu post sobre “teodicéia”, Kivitz propõe que a solução do problema do mal se encontra no fato de se “mudar o paradigma do pensamento que o criou”. Segundo ele: Na verdade, “Deus não tinha escolha”. Ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança, deveria criá-lo livre. Desejando um relacionamento com o ser humano, deveria dar ao ser humano a liberdade de responder voluntariamente ao seu amor. Somente o amor resolveria esta equação, pois somente o amor dá liberdade para que o outro seja livre, inclusive para rejeitar o amor que se lhe quer dar. No final do post Kivitz argumenta que “por esta razão Deus ‘se diminuiu’, esvazia-se de sua onipotência, abre mão de se relacionar em termos de onipotência-obediência, e se relaciona com a humanidade com base no amor.” Nota-se, assim, um linguajar e conceitos defendidos por Kivitz muito parecidos com aquilo que Gondim denomina teologia relacional. Há que se reconhecer, todavia, que nem Bráulia Ribeiro, nem Darci Dusilek e nem Ed René Kivitz jamais se declararam oficialmente adeptos da Teologia Relacional. O que se pode dizer sobre eles até o presente momento é que buscam expressar as implicações lógicas do arminianismo que abraçaram, ou seja, a doutrina da liberdade libertária.  
             No Brasil a Teologia Relacional não é defendida por um grande número de teólogos, mas aqueles que a defendem, ou que por ela demonstram simpatia, são pessoas articuladas e influentes. Logo, os impactos de seus escritos e pronunciamentos no meio evangélico são consideráveis. Além do mais, o assunto discutido por ela não é periférico, mas diz respeito ao próprio cerne da fé cristã. Como corretamente argumenta Heber C. Campos: “Se nossas idéias sobre Deus não forem corretas, então todos os outros aspectos de nossa teologia certamente estarão errados”. Um aspecto importante a ser observado nos escritos dos proponentes da Teologia Relacional é o fato de que, na maioria das vezes, suas argumentações revelam um interesse mais acentuado na persuasão do leitor do que na clareza dos conceitos defendidos. Algumas palavras até parecem ser propositadamente empregadas de modo a dificultar ao leitor a neutralidade necessária para uma análise abalizada. Por exemplo, Gondim defende que “quando se discute sobre a relacionalidade de Deus precisamos vencer nossos paradigmas antigos.
            
              A primeira premissa da Teologia Relacional parece ser sua ênfase na liberdade humana em detrimento da onipotência divina. Para seus defensores, Deus concedeu plena liberdade aos seres humanos a fim de que eles realmente possam ser considerados seres morais e responsáveis. Ao escrever sobre o Deus esvaziado (uma das poucas vezes em que a segunda pessoa é distinguida das demais pessoas da Trindade), Kivitz afirma: O Deus esvaziado não mantém relacionamentos à força, mediante manifestações do seu poder e imposição de sua autoridade soberana. O Deus esvaziado dá um passo atrás, para que você possa exercer sua liberdade de existir com Ele ou contra. Em outra ocasião o mesmo autor alega: “Deus não age como tirano e não força o seu poder em cima de suas criaturas sob pena de esmagá-las, tirando-lhes todo o espaço da liberdade de que precisam para existir”. Também, em sua tentativa de chegar a uma teodicéia satisfatória Kivitz ainda diz: entre a onipotência e a bondade de Deus existe a liberdade do homem e o compromisso de Deus em respeitar esta liberdade. Por esta razão Deus “se diminui”, esvazia-se de sua onipotência, abre mão de se relacionar em termos de onipotência obediência, e se relaciona com a humanidade com base no amor. A princípio, essas afirmações poderiam ser encontradas em qualquer obra arminiana que interpreta a regeneração como uma mudança da vontade e não da natureza humana. Contudo, esses conceitos tornam-se mais claros após se observar que, segundo Gondim, eles formam a base da Teologia Relacional, pois “só é possível pensar em verdadeira relacionalidade se, em sua graça, Deus conceder aos seres humanos liberdade real para cooperarem ou contrariarem a sua vontade para suas vidas”. Os proponentes da Teologia Relacional deixam de perceber é que o Deus do teísmo clássico não é apresentado como um ser arbitrário, mas amoroso e que dinamicamente muda a natureza do coração do homem pela ação do Espírito Santo. Uma vez transformada esta natureza, a vontade humana livremente se inclina a amar a Deus, pois a vontade é serva da natureza e não vice-versa. Contudo, é certo que Deus não opera tal mudança em todos, pois o próprio Jesus afirmou que “muitos são chamados, mas poucos, escolhidos” (Mt 20.26; 22.14).                      

            A segunda pressuposição doutrinária defendida pela Teologia Relacional é que a concepção do teísmo clássico sobre Deus foi corrompida pela influência do neoplatonismo agostiniano e o verdadeiro conceito bíblico de Deus precisa ser resgatado. Esta insistência é geralmente elaborada da seguinte forma: A teologia cristã iniciou seu labor sistemático e filosófico sobre a liberdade com Santo Agostinho. Egresso da escola neo-platônica e dos pensamentos do filósofo grego Plotino, sabe-se que Santo Agostinho importou inúmeros conceitos dessas duas escolas filosóficas. O articulista ainda continua dizendo que os reformadores retomaram o discurso de Agostinho e por isto o protestantismo tornou-se caracterizado por um determinismo teológico que não reflete o pensamento bíblico e essa é a razão de tanta incoerência na prática religiosa e na espiritualidade pessoal contemporânea. Mais adiante Gondim assevera: A teologia agostiniana, influenciada enormemente pelo neo-platonismo, só concebe Deus segundo os paradigmas gregos. Os conceitos de onipotência e onisciência são definidos, não pelo relato das Escrituras, mas pela mitologia helênica.
Em sua defesa da teologia relacional, Paulo Brabo parece assimilar a idéia de que o conceito teísta foi “fruto de uma assimilação sacrílega de conceitos importados da filosofia grega”. Conseqüentemente, o culpado pelo teísmo clássico teria sido Agostinho de Hipona, que corrompeu o conceito de Deus no cristianismo mediante a aceitação da influência grega. Não há razão para se negar a influência neoplatônica sobre a vida e a conversão de Agostinho e, mais tarde, até sobre sua teologia, pois esta influência parece ter sido até benéfica em sua luta contra os maniqueístas, especialmente na obtenção de um conceito da divindade em termos menos materialistas do que eles propunham. Contudo, não se pode omitir o fato de que ao longo de sua vida, como teólogo, Agostinho buscou distanciar-se cada vez mais do neoplatonismo em prol de uma compreensão mais bíblica da realidade. Mesmo Os defensores da Teologia Relacional parecem tão seguros de seus argumentos históricos que se esquecem de alguns aspectos cruciais acerca desse assunto. Primeiro, a alegação de que o cristianismo tradicional foi contaminado pela filosofia grega não é nova, mas ela foi especialmente enfatizada pelos revisionistas do liberalismo teológico como, por exemplo, Adolf von Harnack e alguns representantes da neo-ortodoxia. Em segundo lugar, para justificar uma acusação como esta não basta demonstrar alguns paralelos, mas devem-se mostrar fatos que comprovem que a suposta relação de fato ocorre. Em terceiro lugar, os revisionistas hermenêuticos históricos da Teologia Relacional se esquecem de que “os tradicionalistas criticam o teísmo clássico há séculos”, tentando evitar qualquer traço de helenização em sua interpretação teológica. Em quarto lugar, aqueles que acusam o teísmo clássico de ser
influenciado pela filosofia neoplatônica quase sempre se esquecem de suas próprias influências filosóficas na elaboração de tais argumentos. Há que se observar ainda que, quando os defensores da Teologia Relacional argumentam que o conceito do teísmo clássico é uma assimilação da “mitologia grega” eles parecem desconhecer a diferença entre o entendimento filosófico da divindade e aquele que era popularmente celebrado na mitologia. Nesta, a divindade não é descrita como um ser perfeito, mas os deuses gregos não passavam de seres humanos divinizados, com as mesmas fraquezas, tentações e luxúrias. Para os filósofos gregos, porém, a divindade suprema era o uno, a perfeição, a realidade última e que em nada se comparava às paixões animalescas dos deuses folclóricos da mitologia. Ainda é intrigante observar que aqueles que acusam o teísmo clássico de ter sido corrompido pela filosofia quase não recorrem às Escrituras para apresentar uma perspectiva bíblica sobre Deus, mas volta-se para os filósofos, especialmente aqueles cujo comprometimento com as Escrituras é questionável. Por exemplo, William Hasker afirma que um número expressivo de filósofos hoje defende uma perspectiva mais aberta sobre Deus, mas o grupo citado por ele inclui pessoas sem compromisso com o cristianismo bíblico. Semelhantemente, Kivitz defende seu argumento sobre um Deus que se limita citando André Comte-Sponville um ateu confesso. Gondim parece gostar tanto desta citação que a repete em outro artigo, além de apelar também para a ajuda de Simone Weil e do teólogo liberal John Hick. As bases bíblicas para esses argumentos são raras e praticamente inexistentes.
            O terceiro aspecto básico da Teologia Relacional é o entendimento de que a ênfase na imutabilidade de Deus o torna um Ser insensível e impassível diante dos sofrimentos humanos. O ensino de que Deus é um ser imutável também o torna apático ao sofrimento humano. O problema agrava-se com o fato de a Bíblia apresentar Deus como sendo amor, pois a afirmação de que foi por esta razão que ele  mandou seu Filho para redimir os que nele crêem é radicalmente oposta a qualquer conceito da impassibilidade divina, segundo essa teologia. Clark H. Pinnock argumenta: Impassibilidade é o mais dúbio dos atributos divinos discutidos no teísmo clássico, porque ele sugere a idéia de que Deus não experimenta tristeza, sofrimento ou dor. Ele parece negar que Deus é atingido pelo sentimento de nossas enfermidades, a despeito do que a Bíblia eloquentemente afirma sobre o seu amor e sua tristeza. Como pode Deus amar e não ser atingido pelo mal? Como pode Deus ser impassível quando o Filho encarnado experimentou sofrimento e morte? Parece ser ainda neste sentido que Gondim corretamente insiste que a perspectiva bíblica sobre Deus não é a de um ser impassível, mas de um ser que expressa os seus sentimentos, ou seja, ele lamenta (Ez 6.9), ele se alegra (Sf 3.7), ele sente ciúmes (Sl 78.58) e ele tem prazer em mostrar o seu amor (Mq 7.18). Contudo, a explicação de Gondim para estas manifestações do sentimento divino é que ele preferiu limitar sua soberania e abrir mão de sua imutabilidade para relacionar-se com suas criaturas. Neste ponto há que se concordar que ao longo da história cristã muitos definiram a Deus como um ser impassível. Os próprios teólogos da Confissão de Fé de Westminster procuraram defini-lo como “um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto.” Esta afirmação tem sido um entrave para muitos que tentam harmonizar esse ensino com as informações bíblicas. Como resposta, alguns preferem defender que as expressões bíblicas sobre as reações emocionais divinas são antropopatismos, ou seja, expressões que atribuem sentimentos humanos a Deus. Embora esta argumentação não esteja errada e pareça fazer justiça à intenção dos teólogos de Westminster (pois no contexto Deus é apresentado como espírito, sem corpo e sem paixões), ela ainda não é satisfatória para muitos. A polêmica a ser levantada é: se Deus de fato for impassível, ou seja, não sentir paixões, como pode se relacionar com os seus filhos e que conforto esses redimidos poderiam ter em sua vida diária se este relacionamento se baseasse apenas numa figura de linguagem antropopática? Ainda que o assunto exija mais atenção, algumas coisas precisam ser esclarecidas a este respeito. Em primeiro lugar, há que se entender que o termo impassibilidade é uma expressão negativa e diz respeito ao fato de Deus não poder experimentar dor, sofrimento ou prazer causado a ele por outro ser. Impassibilidade significa que Deus não é sujeito às ações de suas criaturas a menos que ele assim o queira. Contudo, impassibilidade não significa que Deus não ama, pois o amor é algo que emana dele e é por ele praticado, pois Deus é amor. Como corretamente afirma J. I. Packer, “impassibilidade não significa insensibilidade. Quando Deus entra em um relacionamento de dor e sofrimento, isso ocorre por sua própria decisão, pois ele nunca é uma vítima de sua criatura”. Além do mais, impassibilidade nunca foi sinônimo de insensibilidade, assim como imutabilidade não equivale a inércia. Os teólogos relacionais parecem não querer ter o trabalho de entender algumas verdades confessadas pelos cristãos do passado e se alegram em obscurecer o entendimento dos santos do presente. Na verdade, um momento de reflexão é suficiente para convencer as pessoas de que se Deus for sujeito aos mesmos sentimentos que os seres humanos, sua imutabilidade fica seriamente comprometida e o conforto dos cristãos, ameaçado. Em nenhum momento o teísmo clássico, nem mesmo aquele defendido pelos teólogos de Westminster, pretendeu descrever Deus como um ser insensível e distanciado de sua criação. Assim como as Escrituras afirmam, o cristianismo entende que Deus possui emoções reais, sejam estas expressões do seu amor ou da sua ira. Quando se fala da impassibilidade de Deus, o que se pretende é distinguir entre as emoções divinas e as humanas. As emoções humanas são, muitas vezes, causadas pela ignorância, distância, medo e fraqueza. Logo, essas emoções estão em constantes mutações. Deus possui uma vida emocional (ele ama, julga, exerce misericórdia, etc.), mas suas emoções não são espasmódicas como as de suas criaturas.
             Em quarto lugar, há a assertiva de que o relacionamento de Deus com os homens é determinado por seu amor e não por sua soberania. Segundo esse conceito, a soberania de Deus impossibilita a verdadeira liberdade, o que nunca ocorreria em um relacionamento real. Gondim comenta: Numa espiritualidade relacional, tanto nós respondemos às iniciativas de Deus como Deus responde às nossas iniciativas. Numa teologia relacional, Deus corre riscos nesse relacionamento com os seres humanos, embora seja infinitamente competente e sábio para alcançar seus objetivos eternos, redesenhando a história e ele mesmo se adequando às nossas decisões quando o frustramos. Em outro artigo Gondim insiste: Dessa forma deve-se compreender que a soberania de Deus, conforme defendida por alguns cristãos, especialmente os calvinistas, anula a liberdade humana e impede o relacionamento do homem com Deus com base em seu amor Com isto, entende-se que no âmago desse ensino existe a convicção de que os seres humanos só podem ser moralmente responsáveis se possuírem autodeterminação definitiva, o que exclui a soberania divina e só é possível pelo exercício do amor de Deus. O que tais teólogos parecem esquecer é que a descrição que a Bíblia faz do amor de Deus é, em si mesma, soberana, pois ele amou segundo o conselho de sua vontade (cf. Ef 1.11, Jr 31.3). Também, sua escolha amorosa é soberana (Jo 15.16). Além do mais, Paulo diz que ele “tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz” (Rm 9.18).   

             A Teologia Relacional insiste na pressuposição de que o futuro está aberto para ser construído por Deus e os seres humanos em um relacionamento dentro do tempo. Este, talvez, seja o ponto de maior polêmica em relação aos teólogos relacionais, pois eles defendem que Deus só pode conhecer aquilo que existe e uma vez que ele concedeu liberdade ao ser humano para construir o futuro, o mesmo é inexistente e Deus não pode conhecê-lo. Certamente é neste contexto que a afirmação de Gondim faz mais sentido quando ele diz: Na Teologia Relacional, não há contradição com a teologia clássica na afirmação de que Deus conhece perfeitamente o passado e o presente. A polêmica nasce quando se pensa sobre o futuro. Quanto ao futuro podemos afirmar: (1) Deus conhece algumas dimensões do futuro, não por já existirem, mas por Ele haver soberanamente decretado que um dia elas acontecerão – o que explica as profecias, principalmente as messiânicas; (2) o futuro não está exaustivamente determinado, pois Deus criou pessoas para relacionamentos e os relacionamentos exigem liberdade de arbítrio. Homens e mulheres tomam decisões e geram novas realidades; (3) Deus soberanamente escolheu relacionar-se com os seres humanos de forma interativa, amorosamente, chamando-nos para sermos cooperadores com ele na criação do futuro; (4) A Bíblia afirma repetidas vezes que futuras ações de Deus dependem do comportamento dos seres humanos. De acordo com esta perspectiva, não é apenas o futuro que se encontra aberto para ser construído, mas a própria onisciência de Deus se encontra fechada com relação a ele. A única possibilidade de acatar tal pressuposição seria “redefinir” o termo onisciência e é precisamente isto que a Teologia Relacional tem procurado fazer. Segundo Gondim, somente sob esta perspectiva é que os cristãos poderão entender o valor da oração. Segundo ele, em um diálogo amoroso Deus nos convida para participarmos com ele na construção do futuro. Quando oramos, acreditamos que entramos em um genuíno
diálogo com Deus e que o futuro não está determinado. Pedimos porque cremos que o futuro pode ser mudado. Somos artesãos do futuro. Em outro artigo ele insiste: O significado mais profundo da narrativa bíblica é que Deus, na verdade, apostou na construção da história com a participação humana; Numa história inacabada, Deus continua convidando homens e mulheres para fazerem fluir a justiça como um rio caudaloso num reino de paz. A grande questão a ser respondida é como essa teologia difere da Teologia do Processo. Gondim afirma que na teologia clássica, Deus está fora do tempo e contempla tanto o passado como o presente e o futuro como se acontecessem simultaneamente – conceito neoplatônico estranho à cosmovisão judaica. Se isto ocorre na teologia clássica, como a relação entre Deus e o tempo sucedeno revisionismo da Teologia Relacional? O próprio Gondim responde a isto: O futuro não pode ser conhecido não porque Deus seja limitado, mas porque o futuro ainda não existe. Insisto: nisto não limitamos a Deus. Apenas afirmamos que ele amorosamente nos convocou para sermos arquitetos do amanhã. Logo, tanto Deus como o homem se encontram presos ao tempo e ambos evoluem e aprendem das experiências ocorridas dentro do mesmo. Esta proximidade da Teologia Relacional com a Teologia do Processo foi um dos aspectos que mais assustaram Russel Shedd quanto à nova posição de Gondim, pois ele entende que “isto o tem empurrado para uma teologia de Deus de processo”. Certamente foi partilhando da mesma compreensão que Thomas Oden (um ex-liberal) acusou o teísmo aberto com as seguintes palavras: “A fantasia de que Deus é ignorante em relação ao futuro é uma heresia que deve ser rejeitada com base nas Escrituras”. A linha divisória entre a Teologia Relacional e algumas heresias rejeitadas no passado parece ser realmente muito tênue.
            Não se pode esperar grandes benefícios da Teologia Relacional para o protestantismo brasileiro. Uma análise da Teologia Relacional não pode deixar de listar alguns de seus pontos positivos, pois eles existem. Um dos primeiros aspectos a serem valorizados nesta perspectiva é sua tentativa de focalizar o debate evangélico na doutrina de Deus. Há muita discussão na igreja contemporânea acerca de estratégias missionárias, metodologias e opiniões pessoais. Todavia, se o protestantismo brasileiro não possuir uma perspectiva claramente bíblica acerca de Deus, não haverá mensagem a ser anunciada. Outro ponto da Teologia Relacional a ser reconhecido é sua tentativa de desenvolver uma perspectiva clara da teodicéia, ou seja, a defesa da justiça de Deus em um mundo marcado pelo pecado e pela presença perturbadora do mal. Finalmente, os defensores da Teologia Relacional devem ser apreciados por seu clamor em prol de uma teologia mais bíblica e menos filosófica. O problema é que aqueles que fazem tais reivindicações parecem mais ocupados em impressionar seus leitores com suas filosofias do que estabelecer um exemplo necessário para o retorno às Escrituras. Assim como o teísmo aberto, a Teologia Relacional sempre reivindicou ser um ensino prático. Seus proponentes defendem que na medida em que as pessoas perceberem que Deus é vulnerável ao sofrimento e incapaz de conhecer minuciosamente o futuro, elas serão mais motivadas a crer nele e a buscá-lo mais intimamente, especialmente em situações de tragédias. Além do mais, essa nova perspectiva relacional de Deus deveria fortalecer a vida de oração dos cristãos, ajudá-los a explicar a existência do mal e a responder aos problemas sociais, além de motivá-los a atuarem mais na obra da evangelização. Em certo sentido, essa teologia atende perfeitamente ao espírito pós-moderno e antropocêntrico. Contudo, resta saber quão bíblica e benéfica ela realmente é para a igreja contemporânea. O ensino bíblico sobre o conhecimento de Deus é que ele conhece perfeitamente a si mesmo, bem como as coisas ao seu redor. Por ser perfeito, esse conhecimento é chamado “onisciência”, o que significa que o conhecimento de Deus não é sucessivo, mas absoluto, pois ele conhece todas as coisas em sua totalidade. Há várias passagens bíblicas mostrando que Deus é perfeito
em conhecimento (Jó 37.16; Sl 44.21), que ele conhece o interior das pessoas (1Sm 16.7; Jr 17.10; Lc 16.15 e Jo 2.25), dirige o caminho dos homens e estabelece os tempos e limites da habitação deles (Sl 33.13; Atos 17.26). Há que se notar ainda o ensino bíblico de que o aspecto da encarnação referente ao esvaziar-se de sua glória foi assumido pela segunda pessoa da Trindade e não pelo Deus triúno (Fp 2.7-8). A atitude de Jesus fez parte do período comumente descrito como “estado de humilhação”, pois após a sua ressurreição ele foi exaltado à destra de Deus e não se encontra mais “esvaziado” (Fp 2.9-11). Dessa forma, falar sobre o “Deus esvaziado” sem fazer tais distinções é, no mínimo, obscurecer a verdade e confundir a mente dos
leitores e da igreja contemporânea. Neste aspecto, MacArthur e Ware estão corretos ao afirmarem que essa suposta limitação de Deus ataca a doutrina da expiação e da obra redentora realizada por Cristo. Outro aspecto a ser lembrado sobre o ensino bíblico é que os resultados do pecado original afetaram a humanidade mais intensamente do que se imagina. Não apenas a alma, mas todas as dimensões do ser humano, tais como o seu intelecto, vontade, emoções, ações e outras mais foram danificadas pela queda. Essa é a razão pela qual as Escrituras se dirigem ao homem sem Deus como “morto em seus delitos e pecados” (Ef 2.1) e afirma que “não há temor de Deus diante de seus olhos” (Rm 3.9-18). Mesmo os cristãos neste mundo não atingiram o estado de perfeição, mas aguardam com paciência os resultados finais da redenção (Rm 8.22-25). Assim, defender a participação desse homem caído como co-construtor do futuro é, no mínimo, arriscado, para não lembrar que é ir além do que a Bíblia ensina. Ao invés de produzir conforto, essa perspectiva pode resultar em desespero, especialmente para aquele que possui uma noção do mal que nele habita (cf. Rm 7.7-25). O fato é que a prática dos pressupostos da Teologia Relacional, resulta mais em males do que os bens pretendidos. Há alguns problemas lógicos resultantes das pressuposições teológicas desse ensino. Certamente um dos efeitos mais nocivos Teologia Relacional é o fato de ela “construir” uma caricatura de Deus que o torna refém das ações humanas e que não representa o Deus que se revela nas Escrituras. Por mais que os seus defensores enfatizem a importância dos relacionamentos, no final é praticamente impossível à Teologia Relacional se livrar de sua negação da onisciência divina. Ao propor uma reinterpretação da pessoa de Deus e uma dependência de suas ações das decisões humanas ela o torna refém de sua própria criação e tal caricatura está distante de fazer justiça ao Deus verdadeiro. A insistência da Teologia Relacional no fato de que Deus se arrisca em prol de construir um futuro com os seres humanos, rouba Deus de sua glória e os cristãos do conforto de pertencerem àquele para quem “acasos não haverá”. Dessa forma, a apresentação que a Bíblia faz de Deus como “o Rei das nações” (Ap 15.3), “o Juiz de toda a terra” (Gn 18.25), aquele que faz todas as coisas “segundo o conselho de sua vontade” (Ef 1.11) e assim por diante, fica sem sentido para o cristão. Ao descrever Deus como aquele que não conhece o futuro e que se limita a ponto de não poder fazer nada sem a ação de suas criaturas, o ensino relacional destrói o conforto do coração do cristão, implantando em seu lugar o desespero. Ao buscar redefinir “onisciência”, os defensores da Teologia Relacional acabaram criando aquilo que J. B. Philips denunciou em sua obra clássica: um Deus que é pequeno demais. Certamente foi por esta razão que Roger Nicole insistiu que a Teologia Relacional transforma Deus em um mero jogador, que arrisca o seu plano e suas criaturas. Bruce Ware ousa opinar que à medida que o modelo divino do teísmo aberto penetrar em nossas igrejas poderemos antecipar uma diminuição considerável da confiança em Deus e uma grande tentação de depender de nossa inteligência e habilidades.
            O segundo problema prático da Teologia Relacional encontra-se no fato de que ela diminui a confiança dos cristãos na Bíblia. Os defensores da Teologia Relacional acreditam, e até insistem, que sua posição é mais bíblica do que aquela mantida pelo teísmo clássico. Gregory A. Boyd, por exemplo, afirma: “Se apenas aceitarmos o significado claro das Escrituras entenderemos que algumas vezes Deus se arrepende do resultado de suas decisões”. Gondim insiste em selecionar alguns textos bíblicos (pelo menos 40) que mencionam o aparente arrependimento ou frustrações de Deus, bem como alguns que supostamente mostram que Deus está incerto sobre acontecimentos futuros. Contudo, se uma pessoa adotar esta proposta do “significado claro” das Escrituras, poderá ter sérios problemas ao lidar com um texto como, por exemplo, Gênesis 22.12, usado pelos teístas abertos para dizer que Deus estava testando Abraão para aprender algo que ele realmente não sabia de antemão. O fato é que se Deus precisava testar Abraão para saber o que estava em seu coração, logo sua ignorância não é apenas acerca do futuro, mas também do presente. Em segundo lugar, se Deus estiver tentando descobrir se Abraão será fiel no futuro, segue-se que ele estará interferindo com a suposta liberdade libertária de Abraão. Dessa forma, a proposta hermenêutica dos revisionistas não passa nem no seu próprio teste. Além do mais, se Deus não conhece o futuro, qual é a garantia que o cristão possui de que as promessas contidas nas Escrituras são verdadeiras? Assim, esse ensino diminui a confiança na Bíblia e em sua autoridade.
             Em terceiro lugar o ensino da Teologia Relacional é nocivo à esperança escatológica cristã. Se o futuro será construído pelas decisões de Deus e dos seres humanos, qual é a garantia que o cristão possui de que o plano eterno de Deus será realmente realizado. Dessa forma, a certeza escatológica torna-se apenas uma possibilidade. O fato é que ao tentar resolver o problema do mal, a ênfase relacional esvaziou Deus de sua soberania e apontou uma solução mais cruel do que aquela contra a qual se opunha. Ao enfatizar a “soberania de amor” ao invés da “soberania de controle”, a Teologia Relacional produziu um universo desgovernado e um rei cujo reino, no final, é “administrado apenas de maneira vacilante, pois nem todas as criaturas são recipientes de suas intervenções de misericórdia”. A grandeza e a soberania de Deus formam o fundamento da esperança cristã (Rm 8.39). Finalmente, a Teologia Relacional traz prejuízos incalculáveis à vida devocional dos cristãos. A priori, seus defensores argumentavam que esta teologia traria grande contribuição para a vida de oração dos cristãos, pois eles entenderiam o propósito de orar: participarem da construção do futuro com Deus. Além do mais, se a oração supostamente pode mudar os planos de Deus, essa ênfase deveria levar os cristãos a orar com mais intensidade. Contudo, há que se questionar sobre qual é o verdadeiro propósito de se orar para um Deus que não sabe o que irá acontecer? Além do mais, qual é a garantia que os cristãos possuem de que, de fato, esse Deus poderá responder às suas intercessões? Talvez os proponentes desse ensino estejam esquecidos da implicação lógica de suas argumentações nesta questão da oração. Se Deus criou um universo sobre o qual ele não possui o controle total e em cujo governo as pessoas podem interferir através de suas decisões e orações, qualquer intervenção divina representaria uma violação dos direitos dessas pessoas. Logo, a suposta liberdade libertária dos indivíduos impede Deus de agir em resposta às orações dos seus santos. O fato é que a Bíblia ensina que o cristão deve ser motivado a orar pela própria onisciência e soberania de Deus (Mt 6.8-9, “porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais. Portanto, vós orareis...”). Em outras palavras, a oração é o meio estabelecido pelo Pai para que o filho exercite a comunhão com ele.

Conclusão:

             Os caminhos da heresia nem sempre são percebidos facilmente por aqueles que trilham por eles. Como corretamente afirma Luis Wesley de Souza, “as grandes heresias surgidas ao longo da história do cristianismo não foram aquelas facilmente identificáveis à primeira vista”. Por esta razão, debates e controvérsias doutrinárias sempre serão necessários no cristianismo e em defesa da “fé entregue aos santos” (Jd 3). No caso de debates e contendas pela fé cristã, há, todavia, duas coisas que precisam ser consideradas. Em primeiro lugar, há uma diferença imensa entre consideração pelas pessoas e tolerância para com os seus erros. Enquanto o amor cristão pode ser praticado em relação àqueles que divergem da verdade na esperança de que eles retornem à sensatez, os ensinos destes não podem ser tolerados por amor ao rebanho por quem Cristo morreu. Em segundo lugar, como corretamente entendeu John Newton, há sempre obrigações espirituais no contexto dos debates teológicos. Segundo Newton, antes de colocar a “pena sobre o papel”, o debatedor deve entregar o seu oponente, “por meio de sincera oração, ao ensinamento e à bênção do Senhor”. Os efeitos disso, de acordo com Newton, são: (1) amor e piedade
ao oponente, (2) comunhão com ele, se ele for crente e, (3) compaixão por um perdido, caso ele não seja cristão.112 No que diz respeito aos defensores da Teologia Relacional e suas variadas versões, há realmente muita necessidade de intercessão!


Contextualização dos dias do profeta Amós para os nossos dias.


Introdução

 Injustiça social não tem época. Parece onipresente e atemporal. Ao ler o livro de Amós, temos a sensação de ter sido escrito em nossa geração. Este documento que faz parte das Escrituras dos judeus e dos cristãos é um grito de protesto contra a injustiça, opressão e indiferença. Amós foi um homem corajoso. Denunciou os abusos sociais dos homens poderosos de sua época. Não se intimidou com os perigos de se levantar contra reis e sacerdotes. Protestou contra a diferença polar na distribuição de riqueza. Censurou a hipocrisia e a prática religiosa destituída de amor, misericórdia e justiça. Assim, seus vaticínios são usados por profetas, poetas e socialistas de todos os tempos, mesmo pelos que nunca conheceram seus escritos, mas que repetem suas idéias essenciais. E é justamente nesse livro que vou fazer umas breves colocações para os nossos dias.


LIVRO DO PROFETA AMÓS
O profeta inicia as suas profecias com críticas às nações pagãs. Damasco (1. 3-5); gaza (1.6-8); Tiro (1.9,10); Edom (1.11,12); Amom (1.13-15) e Moabe (2.1-3). Até este momento, Amós talvez estivesse sendo elogiado por Israel. Pois ele está trazendo uma mensagem dura para os inimigos e opressores do povo de Deus. Mas de repente, o profeta acrescenta ameaças a Judá e a Israel, em seu pesado discurso (2.4-6), e a partir daí ele só se ocupará deste grupo.
A mensagem de Amós é de justiça social. Aquele tipo de mensagem que ninguém quer mais ouvir nas igrejas atuais. É que em nossos dias as pregações e eventos que muitos desejam ver e ouvir, são de cunho egocêntrico. para muitos já não importa se na igreja local existem necessitados ou não, nem o que se faz antes de chegar até a igreja, se magoou alguém em casa, ou fora dela. Já não importa se brigou com amigos ou vizinhos. Para este tipo de crente, ele pensa que Deus não se importa com o que ele faz, ou com o que ele diz, o que ele quer, é ir à igreja, e Deus tem que falar para ele palavras de prosperidade. Diante disso, questiono onde estão os Amós de nossos dias, que denunciam as desigualdades sociais, os abusos sobre o próximo? Onde estão os pregadores da justiça social e de uma vida sincera diante de Deus, e do próximo? O profeta Amós enfatizou o declínio moral e social do povo de Deus. Eles tornaram-se insensíveis uns para com os outros. Além disso, a prostituição era uma prática de velhos e jovens, com as prostitutas dos templos (Am 2.7); proibiram aos profetas de Deus de revelarem as suas profecias (Am 2.12). Por causa disso e de outras coisas mais, ninguém escaparia da ira de Deus.
Do capítulo 3 à 6 fica bem claro com quem ele está proferindo suas revelações divinas, e o quanto Deus está insatisfeito com aqueles que ele havia tirado da terra do Egito. Israel havia pecado contra o Senhor, e como consequência, eles deveriam ser castigados. Amós tem com ele uma dura mensagem. E ele faz questão de ser ouvido, pois o que a ele fora revelado é divino e urgente. Todo efeito tem causa. Seu aparecimento em Israel, também tinha a sua causa. As ilustrações apresentadas por ele são quase todas tiradas do deserto e da agricultura. “andarão dois juntos? Bramará o leão? Cairá a ave? tocar-se-á a trombeta?” (Am 3.3-6); por meio de tantas interrogações, Amós chega a o verdadeiro ponto onde queria chegar: “falou o Senhor Jeová, quem não profetizará? O ponto chave da seção é este, seu aparecimento em Israel tinha a sua causa. Deus havia falado a sua alma, agora ele é um profeta, e não pode deixar de falar. Ele não escolheu ser profeta, ele foi escolhido. De volta agora, pra a mensagem do recém ordenado profeta, vejamos um dos motivos porque Deus havia lhe chamado. As injustiças sociais se avolumaram; a arrogância do economicamente poderoso; como também o oprimido e o menos favorecido, estavam sendo vistos por Deus. Enquanto o povo de sua época ocupava-se com problemas litúrgicos assim como algumas igrejas de hoje. Deus estava olhando para os problemas sociais, para um pecado que muitos não veem: a exploração e opressão ao pobre. É que a falsa religiosidade que desassociava o culto das suas relações com os outros, é repudiada  por Deus. Deus se interessa tanto por cânticos, como por relacionamentos sadios e corretos. Dizer isto para eles trouxe problemas para Amós (Am 5.10). que bom seria se todos os pregadores fossem como Amós, ele não era do tipo que massageava ego de ninguém. Talvez por isso ele seja tão pouco mencionado nos púlpitos de hoje. É que alguns não vale apenas pregar como este profeta corre-se o risco de desagradar algumas pessoas, que tenha o dízimo volumoso, mesmo que estes vivam em pecado. A pregação de Amós é de juízo, por causa da idolatria e de outros pecados. O profeta mostra que Israel havia entronizado a violência, como extorsão, e o abuso aos pobres como um meio de vida. Ao mesmo tempo em negava que o dia do juízo estava chegando. Mas os primeiros a irem a cativeiro seriam eles; não haveria escapatória. Deus iria levantar a Assíria contra eles.
Nos capítulo 7 ao 9 podemos observar cinco visões de destruição. Após as duas primeiras, a do gafanhoto e a do fogo, o profeta Amós pede a Deus que perdoe o seu povo, em consequência de sua intercessão, Deus aceita o seu pedido. Algumas pessoas em nossos dias intitulam-se profetas do Senhor e proclamam ter a voz profética, acreditando que por fazer denúncias ou acusações a alguém, possuem este ministério de profetizar. Amós mostra que um profeta é também um intercessor. Os ditos profetas da atualidade, muito têm o que aprender com o verdadeiro profeta Amós. Que não era apenas um acusador, era também um intercessor do povo. Mas os pecados das pessoas eram terríveis de mais. Também nestes capítulos está registrado um bate-boca entre Amós e o sacerdote Amazias. Aqui o profeta de Deus e a religião oficial, vão bater de frente. Tudo isso por causa da terceira visão. Amazias distorce a profecia de Amós, além disso, ele despreza o ofício profético de Amós. Tendo Amazias terminado as suas acusações contra o profeta Amós, chega a vez de o profeta passar a responder ao sacerdote, o profeta falava com autoridade de Deus, e não poderia admitir que tentassem silenciá-lo. Ele originalmente não era um profeta, nem um dos chamados filhos de profeta. Seu ofício real era o de boieiro e de colhedor de sicômoros. Mas a Amós não estava a profetizar apenas por profissão em Israel. Ele tinha recebido um ordenado de Deus. Ele sabia que Deus, o soberano, o puniria se sua mensagem não fosse real, e jamais correria o risco defraudar o mandamento de não tomar o santo nome de Deus em vão. Ele também não queria correr o risco de ser morto, por proferir falsas profecias. É sempre bom lembrar que tudo o que dissermos, daremos conta de cada palavra diante de Deus.
Em Amós aprendemos a ser bem prudentes em nossas atitudes. Pois existe um salvador no céu, que além de ver tudo o que fazemos, ele irá nos julgar segundo as nossas obras.


Conclusão
Diante de tudo o que podemos observar nas profecias deste exemplar profeta. Aprendemos que os vocacionados pelo Senhor não necessariamente necessitam de credenciais formais ou qualificações, para serem bem sucedidos em cumprir seus propósitos. E mesmo quando a religiosidade foi maior que o Deus da religião de Israel, o profeta mostrou que o Senhor conhece todos os nossos passos, e não deixará impune nenhum pecado cometido contra os menos favorecidos. Pois o Senhor é justo e sempre está disposto a galardoar os que são de coração puro e reto.

Teísmo-Aberto


Teísmo-Aberto


Introdução:
             Através deste artigo vamos observa que tanto a glória de Deus quanto o genuíno bem seus filhos são irreparavelmente prejudicados pela história proposta do teísmo aberto. Segundo essa proposta Deus é transformado para parecer muito mais como nós. Durante esse processo, nós, seus filhos, somos transformados de modo a parecer mais semelhantes a Deus: passamos a ser responsáveis por realmente moldar a história futura de nossa vida por meio das escolhas que fazemos; e com isso passamos a influenciar a Deus, até mesmo tentando fazê-lo mudar de idéia, na medida em na oração, adotamos a soberania humana. Em tudo isso, o brilho e o esplendor da glória de Deus ficam enevoados que se tornam irreconhecíveis. E assim atribuímos mais dignidade ao ser humano do que a Deus.

            “Deus é Deus de amor e, como tal, respeita você e os seus desejos. Ele não é alguém que “força” sua vontade sobre outra pessoa. Desse modo, Deus não está interessado em planejar seu futuro por você, nem em deixar-lhe sem direito de voz sobre o que fazer em sua vida. Na verdade, grande parte do futuro ainda não foi planejada e Deus espera que você tome suas próprias decisões e escolha o seu rumo, de maneira que ele saiba como melhor traçar seus próprios planos. É claro que ele deseja que você o consulte durante todo o processo, embora o que você vier a decidir seja sua própria escolha, e não dele. O que Deus deseja é que você e ele trabalhem juntos, traçando o rumo de sua vida. E você pode estar seguro de que ele fará tudo o estiver ao alcance dele para ajudá-lo a ter a melhor vida que você pode ter”. “Quando a tragédia entrar em sua vida, por favor, não pense que Deus tem algo a ver com isso! Deus não deseja que a dor e o sofrimento ocorram e, quando isso acontece, ele se sente tão mal com a situação como aqueles que estão sofrendo. Não pense que, de alguma maneira, essa tragédia deva cumprir algum bom propósito final. O mal que Deus não deseja acontece a todo o momento e, com freqüência, não serve para nenhum bom propósito. Porém, quando sobrevém a tragédia, podemos confiar que Deus está conosco e nos ajuda a reconstruir o que se perdeu”.
            Todas essas afirmações são compatíveis com um movimento relativamente novo dentro de nossas igrejas evangélicas, chamado “teísmo-aberto”. Esse movimento é assim denominado pelo fato de seus adeptos verem grande parte do futuro como algo que está em “aberto”, e não fechado, mesmo para Deus. Boa parte do futuro está indefinida e, consequentemente, Deus o desconhece. Deus conhece tudo o que pode ser conhecido, assegura os teístas abertos. Mas livres escolhas e ações futuras, por não terem ocorrido ainda, não existem e, desse modo, Deus não pode conhecê-las. Deus não conhece o que não existe – afirmam eles – e, uma vez que o futuro não existe, Deus não pode conhecê-lo agora. Mais especificamente, ele não pode conhecer, de antemão, uma grande parte do futuro que virá à tona à medida que criaturas livres decidirem e fizeram tudo segundo lhes aprouver. Em conformidade com isso, momento após momento Deus aprende o que fazemos, e seus planos de vem constantemente se ajustar ao que acontece de fato, na medida em que isso for diferente do que ele previu.
            Então, o que se pode dizer da visão aberta? Ou melhor, por que cristãos seriam atraídos por esse entendimento sobre Deus? Deixe-me sugerir três razões principais que os teístas abertos apresentariam. Em primeiro lugar, aqueles que sustentam a perspectiva do teísmo aberto creem que o relacionamento com Deus é muito mais vital e “real” quando o Deus com quem interagimos não souber, de antemão, o que faremos. Afinal, se Deus não souber o que você dirá, fará ou decidirá até que você realmente tiver escolhido. Ao aprender isso, Deus pode interagir com você em relação ao que foi decidido e, assim seu relacionamento pode assemelhar-se muito mais ao que em geral pensamos ser um “relacionamento verdadeiramente pessoal”. Temos que admitir: todos reconhecemos que Deus conhece muito mais do que nós diz o teístas aberto; afinal de contas, ele conhece o passado e o presente perfeitamente. Porém, se ele também conhecer o futuro perfeitamente, isso transformaria nossa interação com ele em uma farsa. Se Deus conhecer todo o futuro definitiva e perfeitamente, ele conhece cada palavra que você proferirá, cada escolha que você fará e cada ação que você praticará. Então, qual seria a reação de Deus diante de suas escolhas e ações, se ele as conhecesse de antemão? Deus jamais poderia realmente surpreender-se, deleitar-se ou compadecer, ou mesmo se relacionar com você de “maneira verdadeira”. Nenhum relacionamento verdadeiro seria possível, argumentam os teístas abertos, se Deus conhecesse todas nossas livres escolhas e ações antes de nós as praticarmos.
             Em segundo lugar, quando o sofrimento e a aflição entram em nossa vida, os teístas abertos crêem que sua visão sobre Deus é muito confortadora. Além do mais, pensam que sua solução para o “problema do mal” é muito mais satisfatória do que qualquer alternativa proposta por uma visão teológica mais tradicional. O teísta aberto diz que você deveria sempre compreender que Deus não planejou que o sofrimento entrasse em sua vida. E, certamente, ele não está usando isso tudo em sua vida a fim de cumprir algum propósito oculto. Pelo contrário, diz o teísta aberto, todo mal vem à tona pelo uso errado do livre-arbítrio que Deus deu a suas criaturas morais. Como declara Greg Boyd um importante defensor do teísmo aberto; “a visão aberta, segundo eu proponho, permite-nos dizer diretamente, de modo inequívoco, que a fonte última de todo mal se encontra na vontade de livres agentes, e não em Deus” assim, de fato não existe qualquer “agenda oculta por trás do sofrimento; Deus não está “secretamente” causando sua aflição. Como sabemos disso? Porque Deus é amor e ele simplesmente não desejaria o sofrimento para quem quer que fosse. Muitas vezes, ele nem mesmo sabe qual aflição está por vir e quão severa ela será. Logo, permanece este fato: ele não quer nem deseja que o sofrimento ocorra. Uma questão natural, portanto, é esta: se Deus criou o mundo ele sabia que esse indesejável sofrimento seria parte da criação que traria à existência? Em caso afirmativo, o que justifica Deus ter criado um mundo que contém o tipo terrível de sofrimento que experimentamos? De acordo com o ponto de vista aberto, Deus sabia que o sofrimento seria uma possibilidade no mundo criado, mas não sabia que realmente surgiria. Pois bem, simplificando tudo, quando Deus decidiu que tipo de criação ele traria à existência, optou pela existência de criaturas “livres”. Contudo, a verdadeira liberdade significa que,  muito embora Deus deseje que as pessoas empreguem sua liberdade para o bem, ele não pode dar-lhes a capacidade de serem livres e, ao mesmo tempo, controlar a forma como elas utilizam sua liberdade. Isso seria uma contradição, argumentam os proponentes do teísmo aberto. Então, ao dar liberdade ao ser humano, Deus aceita a possibilidade de que as pessoas venham a empregar o dom da liberdade para causar o mal. Em vez de usá-lo para amar, elas podem vir a empregá-lo de modo vil, prejudicial e vingativo. Assim, Deus sabia que o mal indesejado era uma possibilidade, mas não sabia se o mal, de fato, adviria. Dessa maneira, como se justifica o fato de Deus ter criado um mundo que – conforme ele sabia - poderia conter o mal? Isso justifica – diz o teísta aberto – a simples possibilidade de a liberdade humana ser usada para o bem forneceu a justificativa para que Deus criasse um mundo em que ele sabia que o mal também poderia vir a existir. Como essa resposta pode ser mais satisfatória ao problema do mal do que as tradicionais respostas dos teólogos cristãos? Os teísta abertos argumentam que, se Deus conhecesse o futuro completo do mundo antes de criá-lo, isto é, se ele soubesse de toda atrocidade, todo estupro, todo assassinato brutal, toda injúria maliciosa, todo genocídio, é inimaginável que ele tivesse criado este mundo. Certamente, o mal deste mundo não é o que Deus queria, e Deus lamenta todas as ocorrências específicas do mal. Entretanto, o ponto decisivo é o seguinte: Deus simplesmente não teria como saber de antemão que o mal surgiria, nem que teria o alcance que teve, e ele nunca deseja que esse mal aconteça. Portanto, eles têm a sensação de que Deus é absolvido das acusações de que tem responsabilidade, como criador, pelo mal no mundo.
              Em terceiro lugar, os teísta abertos afirmam que sua visão explica melhor o próprio ensino das escrituras a respeito de Deus. Isto é. Ainda que a visão aberta não tenha sido defendida por nenhum segmento ou ramo da igreja ortodoxa, católica romana ou protestante, ao longo de toda história, os teísta abertos afirmam com ousadia que o ponto de vista deles é, na verdade, mais bíblico. Atente para Jeremias 19.5. Nesse versículo, Deus denuncia o mal e a idolatria de Israel ao agir com tamanha perversidade; “nunca lhes ordenei, nem falei, nem me passou pela cabeça. A partir dessa declaração, parece que Deus é desconhecedor das ações que Israel tomará, de tal modo que somente ao agirem o conhecimento acerca da atitude deles “entra” na mente de Deus. Isso mostra claramente – diz o teísta aberto – que Deus não conhece de antemão quais ações Israel realmente executará, mesmo que ele sempre tenha sabido o que possivelmente viriam a fazer. Conforme comenta Greg Boyd, se Deus de fato sabia exatamente o que Israel iria fazer, mas nos diz que mesmo as atitudes deles não lhe passaram pela cabeça, isso implica uma clara “contradição”! É muito melhor, diz ele, levar o sentido dessa passagem ao pé da letra e reconhecer que Deus aprende o que esses livres e pecadores israelitas fazem somente quando eles o fazem. Nesse ponto, o conhecimento entra na mente de Deus. Ou considere o relato de Jonas, ao ser enviado a Nínive, a fim de proclamar o juízo iminente. Depois de o relutante profeta finalmente ter ido a Nínive e pregado a mensagem de Deus, os ninivitas se arrependeram e rogaram por misericórdia. Em seguida, lemos: “E Deus viu o que eles fizeram, como se converteram do seu mau caminho; então arrependeu-se do castigo que lhes enviaria e não o executou” (Jn 3.10). isso indica claramente que Deus – dizem os teísta abertos – planejou algo baseado no pecado e perversidade de Nínive; porém, quando soube que eles se arrependeram, o próprio Deus “arrependeu-se” e mudou de idéia sobre o que planejara fazer.  Como Deus poderia mudar de idéia dessa maneira, pergunta o teísta aberto, se ele já sabia exatamente o que os ninivitas fariam? Essa mudança de idéia não indicaria que Deus não conhece o futuro inteiro?
            O teísmo aberto sugere, assim, que apresenta a natureza de nosso relacionamento com Deus de modo mais realista do que o faz a teologia tradicional; que fornece uma resposta melhor à existência do mal em nosso mundo; e que é mais fiel ao que a Bíblia de fato ensina. Se esse é o caso, por que devemos nos preocupar? O teísmo aberto não é, ao menos, um possível entendimento correto acerca daquilo que as escrituras ensinam, e não deveríamos aceitá-lo como uma visão legítima, ainda que não concordemos totalmente com ela? Por que nos preocupar com o que os teísta abertos defendem? Em primeiro lugar, a própria grandeza, bondade e glória de Deus ficam debilitadas pela visão aberta sobre Deus. Ainda que o ponto de vista aberto tente compreender Deus como mais “relacional” e “realmente envolvido” em assuntos humanos, ele o faz retratando Deus como menos do que ele verdadeiramente é. Quanto à visão aberta, só se pode dizer o seguinte: “o Deus deles é limitado demais!”. Temos aí um Deus que deve esperar - em tantas, mas tantas situações – parar ver o que nós faremos, antes de poder decidir seu próprio rumo. Embora esse seja um jeito muito natural de pensar sobre escolha e ação humanas, será que isso se aplica adequadamente ao Deus da Bíblia? O Deus vivo e verdadeiro da Bíblia proclama: “Eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim. Sou eu que anuncio o fim desde o princípio e, desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; sou eu que digo: o meu conselho subsistirá, e realizarei toda a minha vontade” (Is 46.9,10). Seguramente, esse Deus majestoso encontra-se elevado e exaltado, e bem acima do proposto pela visão aberta. As abundantes profecias da Bíblia, a maioria das quais envolve inumeráveis livres escolhas e ações humanas futuras, deveriam bastar por si mesma na indicação de que o Deus verdadeiro não tem de esperar para ver o que nós faremos antes de tomar suas decisões. Se Deus não sabe o que faremos antes de em si, como Cristo poderia, por exemplo, advertir a Pedro que este o negaria três vezes, antes de o galo cantar (13.38)? e também em alguns versículos antes, Jesus dissera aos discípulos que começaria a contar-lhes coisas antes de elas acontecerem, afim de que, quando acontecessem, “creias que Eu Sou”. Deus sabe de antemão o que faremos e ele pode, quando quiser, declarar-nos tudo isso como prova de sua própria divindade. A visão aberta rebaixa Deus, pura e simplesmente falando. Tenta tornar mais significativa a escolha e ação humanas, à custa da própria grandeza e glória de Deus. O Deus do teísmo aberto é muito limitado, simplesmente por ser menos do que o majestoso, pleno conhecedor, Deus da Bíblia.
           Um exemplo a mais pode ajudar-nos a ver como a visão aberta debilita o retrato de Deus nas escrituras. No teísmo aberto, por Deus muitas vezes traçar seus planos sem saber exatamente como tudo funcionará, pode ser que Deus de fato olhe de volta para suas próprias ações passadas e conclua que ele fez não foi o melhor. Em (Gn 6 – 8) o proponente do teísmo aberto Sanders relata o acontecimento do dilúvio. Ele sugere que Deus reconsiderou se deveria mesmo ter provocado sobre o mundo o dilúvio e o doloroso juízo advindo deste. Sanders escreve: “pode ser que, embora o mal humano tenha gerado grande dor em Deus, a destruição do que ele criara trouxe-lhe sofrimento ainda maior. A pesar de seu julgamento ter sido correto, Deus decide tomar rumos diferentes  no futuro”. Em outras palavras, somos abandonados à noção muito desconfortável e profundamente deplorável de que até mesmo Deus pode olhar de volta para suas ações passadas e dizer: “Ainda que isso tenha sido justo, pode não ter sido a melhor coisa”. Tal visão sobre Deus questiona a sabedoria divina e a infalível bondade de seu caráter e ações. Mais uma vez, deve ficar evidente a cristãos crentes na Bíblia que a visão aberta sobre Deus diminui-lhe a plena integridade, sabedoria, grandeza, bondade e glória. O Deus deles é limitado demais.
           Em segundo lugar, a força, o bem estar, a fé, a esperança e a confiança dos cristãos em seu Deus ficam debilitados pela visão aberta. Para ver como visão aberta é devastadora à fé cristã, considere umas das passagens e promessas mais estimadas em toda a Bíblia: “confia no Senhor de todo o coração, e não no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará tuas veredas” (Pv 3.5,6). O que acontece a todos esses conselhos e garantias, se o Deus do teísmo aberto for considerado o Deus verdadeiro? Por esse exemplo particular, a extensão de nossa plena confiança em Deus é demolida, sem mais nem menos. O Deus do teísmo aberto sempre desejará o nosso melhor; porém, uma vez que ele pode não saber de fato o que é melhor, torna-se impossível depositar nele nossa confiança inquestionável e sem reservas. E se confiarmos na direção dele, por exemplo, mas começarmos a experimentar dificuldades? O que devemos concluir? Podemos dizer com confiança que “todas essas dificuldades são plano que Deus tem para mim e por meio delas seus bons propósitos se cumprirão”? Se o Deus em que cremos é o Deus do teísmo aberto, nossa resposta deve ser um altíssono não. Em vez disso, quando as dificuldades vierem, a questão natural e inevitável de nossa ansiosa alma deverá ser: “Será que Deus previu essas dificuldades, quando me deu a direção que segui? Será possível que o caminho em que me encontro não seja o melhor para mim, ainda que Deus anteriormente tenha achado que fosse? E será que não é melhor seguir um rumo diferente daquele que Deus me levou a tomar?” como podemos confiar de todo nosso coração no Senhor, enquanto temos dúvidas a respeito da capacidade de Deus para nos guiar e dirigir da melhor maneira? Além disso, como nos inspiraremos a reconhecer Deus e sua sabedoria e propósito em todos os nossos caminhos, ou confiar que a direção que ele nos deu está correta? Não importando o que “endireitar as veredas” signifique em provérbios 3.6, com certeza indica que o caminho que você tomar deverá cumprir o que Deus sabe ser o melhor para sua vida. Como todos sabem, os retos caminhos de Deus podem ter muitos desvios e reveses não previstos por nós. Entretanto, na perspectiva de Deus, esses caminhos são retos, apesar de tudo, pois eles de fato cumprem o que Deus sabe ser o melhor. Considere José, desprezado por seus irmãos, vendido ao Egito, falsamente acusado pela mulher de Potifar, lançado à prisão – todavia, tudo aconteceu, conta-se, como parte do plano de Deus (Gn 50.20). Por José estar tão seguro quanto à condução de Deus em tudo o que lhe aconteceu na vida, pôde dizer aos seus irmãos: “Não fostes vós que me enviastes para cá, mas sim Deus”. Conforme o teísmo aberto – Deus não conhece o que acontecerá em boa parte do futuro e se Deus pode descobrir que as coisas não se passaram como ele pretendia, não existe possibilidade de que Deus nos prometa com razão que, à medida que reconhecermos em tudo o que fizermos, ele seguramente endireitará nossos caminhos. O Deus vivo e verdadeiro da Bíblia de fato faz essa promessa espantosa, inspiradora, encorajadora e que nos chama à humildade. Ele diz a seus filhos que confiem nele, pois ele conhece tudo o que acontecerá e promete supervisionar todas as coisas em nossa vida conforme mantemos nossa esperança firmada exclusivamente nele. Nossos caminhos, como filhos de Deus, enquanto depositamos nossa fé e esperança nele. Porém, infelizmente, nada do tipo pode ser verdadeiro em relação a Deus do ateísmo aberto.
            Um exemplo específico em que o entendimento da visão aberta simplesmente não se ajusta ao que é encontrado nas escrituras pode ser visto em Jo 18.4: “Sabendo Jesus tudo o que estava para lhe acontecer, adiantou-se e perguntou-lhes: a quem procurais?”. O texto é significativo, ao menos de duas maneiras, para negação central do teísmo aberto quanto à presciência completa definitiva.
Argumento 1. Jesus e sua reivindicação total de conhecer todas as coisas por vir. A explícita reivindicação em Jo v.4 de que Jesus sabia “tudo o que estava para lhe acontecer” é em si mesma assombrosa, por sua aberta e explícita afirmação de conhecimento abrange dos eventos futuros. Considere quantas ações e eventos específicos deve abranger o tudo que Jesus parece saber: os guardas, os soldados, os julgamentos, as acusações, o interrogatório, as surras, as negações, as traições, a libertação de Barrabás, os espinhos, a cruz. A pura quantidade de conhecimento fático sobre o futuro, reivindica nessa declaração, desafia qualquer explicação desvinculada do fato de Deus ter uma  presciência abrangente. Além disso, considere quantas dessas futuras ações e eventos se desdobraram à  sua própria maneira e ocorreram conforme Jesus sabia que ocorreriam, apenas pelas livres decisões de inúmeros agentes morais humanos. Cada ataque de um soldado, falso testemunho, acusação de blasfêmia, mentira mordaz, honraria escarnecedora ou forte golpe executado por um ou outro livre agente. De acordo com o teísmo aberto, Deus não poderia conhecer nenhuma daquelas livres ações futuras. O texto, porém, nos diz o contrário: Jesus sabia tudo que estava por sobrevir-lhe. Em outras palavras, o texto nos diz que Jesus sabia aquilo justamente que os teístas abertos afirmam que ele não pode saber.
Argumento 2. A pergunta de Jesus àqueles que o procuravam. A pergunta que Jesus fez àqueles que vieram prendê-lo (v.4) mostra um discernimento importante sobre como as escrituras devem ser interpretadas corretamente, no diz respeito ao teísmo aberto. Logo após relatar que Jesus sabia tudo o que estava para sobrevir-lhe, João registra Jesus fazendo justamente uma pergunta. A finalidade de uma pergunta não seria adquirir conhecimento que não se possui no momento? Mas a justaposição da pergunta, seguindo imediatamente a afirmação joanina de que Jesus sabia “tudo o que estava para lhe acontecer”, mostra que interpretaríamos mal o questionamento se o lêssemos como admissão tácita da falta de conhecimento de Jesus. Porém, à medida que se lê a passagem, fica bem claro por que Jesus fez a pergunta. Ele deseja que eles anunciem abertamente que estão à procura de Jesus de Nazaré, de modo que ele possa responder “Sou eu” aplicada a si mesmo. À luz da utilização regular que o evangelho de João faz da expressão “Eu sou” em relação à divindade de Jesus, e à luz da reação de caírem por terra ao ouvirem sua declaração (v.6), parece que Jesus está, com certeza, fazendo mais do simplesmente se identificar com uma pessoa específica. Sua afirmação de divindade fica implícita. Assim, a pergunta, longe de indicar falta de conhecimento por parte Jesus, pretende introduzir sua reivindicação à divindade ilimitada. Encarando os fatos de forma simples, Deus pode ter motivos para falar conosco ou se aproximar de nós por caminhos que, em si e por si mesmo, parecem indicar que ele carece de conhecimento. Fazer uma pergunta, com certeza, pode expressar essa aparente limitação do conhecimento divino. Mas com isso aprendemos ao interpretar a pergunta de 18.4 à luz da inequívoca afirmação, que a pergunta de Jesus não significava falta de conhecimento. Pelo contrário, foi ferramenta para extrair dos outros os que ele queria deles, a fim de levar adiante seus propósitos, ao cumprir sua vontade prévia. Os proponentes da visão aberta dizem com freqüência que pretendem apenas aceitar seriamente o sentido bíblico simples e direto. Caso aceitássemos a pergunta de Jesus de modo direto, como se estivesse indicando limitação em seu conhecimento, isso não seria mera interpretação alternativa da passagem; na realidade, seria interpretar totalmente mal o trecho e violar a explícita declaração de João.
            Apesar de toda celebração em torno da habilidade do teísmo aberto para lidar melhor com questões de sofrimento e aflição, deve ficar claro que as escrituras resistem obstinadamente à visão aberta em relação a esse assunto. É verdade que o sofrimento não é por si mesmo, algo essencialmente bom. Deus, contudo, não esta ausente do sofrimento, e o sofrimento não é algo inútil e desnecessário. Pelo contrário, em meio ao sofrimento, a esperança e a confiança seguras do cristão é que Deus está profundamente envolvido nessa aflição, a fim de levar a cabo tanto o que ordenou por meio dela quanto o que é bom para seus filhos. Com base na Bíblia, portanto, o teísmo aberto fracassa na tentativa de ser uma explicação viável para a existência do sofrimento e da dor. A principal diferença entre o ponto de vista ortodoxo e o do teísmo aberto se encontra na resposta à seguinte pergunta: existe algum propósito divino em meio ao mal que ocorre? Segundo a proposta do teísmo aberto, Deus permite o que poderia impedir, mesmo sabendo que isso não cumpre nenhum bom propósito. As propostas ortodoxas acerca da relação divina com o mal insistem em que, seja pela vantagem que tem por sua presciência exaustiva e completa, seja por seu soberano controle sobre toda a história, o Deus do cristianismo histórico permite aquilo que, segundo ele sabe, em última análise cumprirá algum propósito maior.  O sofrimento não é inútil, na medida em que Deus é capaz de ver com precisão qual propósito se cumpre por meio de todo sofrimento que acontece.

Conclusão:
           
            O Deus da Bíblia ordena nossa confiança, mas o Deus do teísmo aberto deixa-nos temerosos. O Deus da Bíblia encoraja nossa fé e esperança enquanto enfrentamos o futuro, mas o Deus do teísmo aberto desperta medo e terror diante de um futuro incerto tanto para nós quanto para ele mesmo. O Deus da bíblia nos dá profundo e intenso senso de propósito em todas as aflições, sofrimentos, provações e tribulações que encaramos, mas o Deus do teísmo aberto nos diz que toda nossa dor é inútil. O Deus da Bíblia é grande em seus feitos e sabedoria, mas o Deus do teísmo aberto é limitado e pequeno. Então podemos declarar que o Deus da Bíblia não é o mesmo Deus do teísmo aberto.



Regeneração


Introdução
     O tema clássico entre a teologia agostiniana e todas as formas do pelagianismo concentra-se num aspecto da ordem da salvação (ordo salutis): qual é a relação entre regeneração e fé? A regeneração é uma obra monergística ou sinergística? Uma pessoa deve primeiramente exercer a fé a fim de nascer de novo? Ou o novo nascimento deve ocorrer antes da pessoa estar apta para exercer fé? A graça da regeneração é operante ou cooperativa? A regeneração como vemos acima, ela têm muitas indagações, e é muita complexa para quem quer estudar bem aguçadamente. Mas o que é monergismo e sinergismo?
A regeneração monergística significa que ela é alcançada por um simples protagonista, Deus. Significa literalmente obra de único ser. O sinergismo, por outro lado, refere-se à obra que envolve a ação de duas ou mais partes. ou seja, a graça é um assistente de Deus, como um ingrediente necessário mas dependente da cooperação humana para a sua eficácia. E é nesse tema que vou desenvolver meu trabalho sobre regeneração, citando os ensinos de alguns eruditos consagrados na teologia cristã.

Sinergismo
           
O sinergismo teve princípio com os ensinamentos de Pelágio, um monge britânico que engajou num debate ardente com Agostinho na igreja primitiva. De acordo com os ensinamentos de Pelágio, ele pregava o seguinte: que Deus não havia ordenado nada impossível, que o homem possuía o poder de fazer o bem se assim o desejasse e que a fraqueza da carne era meramente um pretexto. Ele também acreditava que a ordem de obedecer implicava habilidade para obedecer. Isso se aplicaria não apenas à lei moral de Deus, mas também aos comandos inerentes ao evangelho. Se Deus ordena que as pessoas creiam em Cristo, então elas devem ter o poder de crer em Cristo sem a ajuda da graça. Se Deus ordena que os pecadores se arrependam, eles devem ter a habilidade de se inclinarem para obedecerem ao comando. Por meio do seu próprio esforço, o homem pode alcançar tudo o que se requer dele na moralidade e na religião. Pelágio ensinava que, se Deus é completamente bom, então tudo o que criou é igualmente bom. Toda sua criação é boa, incluindo o homem. E o homem dotado com razão e livre arbítrio. Com sua razão, ele deveria ter o domínio sobre todas as criaturas irracionais; com seu livre arbítrio, ele deveria servir a Deus. E essa liberdade, não poderia ser perdida. Pelo contrário é a base única da relação ética do homem com Deus. Esse livre arbítrio consiste essencialmente na habilidade de se escolher entre o bem e o mal. E é um aspecto essencial da natureza constituinte do homem.
Segundo Pelágio; a vontade do homem é como uma tabula rasa perpétua, que o homem poderia escrever tudo que lhe agrada; e depois de cada decisão poderia reverter-se à indecisão. Ou seja, a vontade do homem não passou por uma mudança e nem por uma deformação. O homem não foi corrompido, e nem há uma inclinação para o pecado. O homem por si só pode voltar para um novo começo, como se nada tivesse acontecido.
Para Pelágio a natureza humana não poderia ser alterada, e sim modificada acidentalmente. Ou seja, o comportamento de alguém pode ser mudado quando ele comete atos pecaminosos, mas essas ações não mudam a natureza desse alguém. Por que ele acreditava dessa forma? Por que ele definia o pecado como um desejo de fazer o que a justiça proíbe, do qual somos livres para nos abstermos e, assim, podemos sempre evitá-lo pelo exercício adequado da nossa vontade. O pecado não poderia se transformar em natureza, ele sempre é um ato e nunca uma natureza. Se o pecado fosse natureza; Deus seria o autor do mal. E a sua justiça e bondade estariam destruídas.
Essa doutrina sinergista, que fala sobre a vontade do homem em crer ou repudiar o chamado de Deus; é enfatizado pelo Tiago Armínio em seus ensinamentos, que declara: todas as pessoas não-regeneradas têm liberdade de vontade e uma capacidade para resistir ao Espírito Santo, para rejeitar a oferta da graça de Deus, para desprezar o evangelho da graça e para não abrir àquele que bate à porta do coração; e essas coisas eles realmente podem fazer sem qualquer diferença entre o eleito e o reprovado. Armínio diferenciava a graça entre a graça suficiente e a eficiente: a graça suficiente provê tudo que o pecador necessita para ser salvo. Porém essa graça suficiente, por falha daquele a quem é recebida nem sempre obtêm o seu efeito, por isso a justiça de Deus não poderia ser defendida quanto à condenação daqueles que não crêem. E a graça eficiente, diz que Deus age de uma forma tão íntima no coração e mente do homem que aquele no qual o ato foi concedido, ele nada pode fazer além de consentir com Deus que o chamou. Armínio diferenciava do conceito reformado de Calvino e Lutero sobre a graça, Pois eles acreditavam que a graça era irresistível; porque, quando Deus chama, todos cedem ao seu chamado. Já Armínio acreditava que a graça é resistível. Pois o homem pode resistir a Deus.            Tiago Armínio acreditava que a graça capacita o homem a submeter-se a Cristo, mas não a desejar. O pecador só é capaz de desejar; através do Espírito Santo. Pois é obra de Deus conceder a graça; e consentir com ela é obra do homem, que agora tem o poder de cooperar ou não com ela. Assim conforme a crença de Armínio pode concluir que ele acreditava que o poder para crer e se converter é concedido, de forma irresistível, mas o próprio ato de crer e se converter pode ser produzido ou impedido pela vontade humana.
Monergismo
Agostinho busca responder à pergunta: o que é necessário para o homem caído “recuperar-se para o bem e para Deus”? Como uma criatura que é má se recupera dessa condição e se torna boa? Como uma criatura que e alienado de Deus e indisposto com a relação a Deus, encontra seu caminho de volta para Deus? Essas questões são supremas para um entendimento da salvação. Para Agostinho, a resposta para elas estava na graça de Deus. Para Agostinho a graça é livre porque não é merecida e nem conquistada. É indispensável porque é a condição necessária para recuperação. É preveniente porque deve vir antes que o pecador possa se recuperar. É irresistível porque é eficaz, executando o propósito de Deus ao dá-la. É infalível porque essa liberação de graça é perfeita, sem falhas. A dádiva da graça é ligada ao propósito eterno de Deus e é intimamente vinculada ao seu propósito da predestinação. Agostinho afirmou que a vontade do homem era tanto livre quanto boa, servindo a Deus com disposição e grande satisfação. Ou seja, a vontade é verdadeiramente livre quando não é escrava de vícios e pecados. E foi essa vontade que Deus tinha dado ao homem, mas foi perdida pelo próprio erro, só pode ser restaurada por meio daquele que foi capaz de dá-la em primeiro lugar. Para que viemos entender sobre a graça é preciso saber sobre a originalidade da criação do homem; e para o nosso entendimento vou citar os argumentos de Agostinho. Na criação, disse Agostinho, o homem tinha a posse peccare ( capacidade para pecar) e a posse non peccare ( capacidade para não pecar). Mesmo nesse estado, havia a assistência divina disponível para ele. Essa assistência graciosa capacitava Adão a continuar em seu estado original, mas não o compelia a perseverar nele. Adão tinha a posse non peccare ( capacidade para não pecar) mas não a non posse peccare ( incapacidade para não pecar). Na criação, adão tinha a possibilidade, mas não a necessidade de pecar. Agostinho argumenta que o homem não apenas tinha a capacidade para não pecar como tinha a capacidade para agir assim facilmente. Em vez disso, ele violou o comando de Deus de Deus e experimentou a horrível queda. E com isso veio as suas conseqüências.
Com a queda, o homem perdeu a liberdade. Na criação o homem tinha a inclinação para positiva para o bem e para amar a Deus. Embora fosse possível que o homem pecasse, não havia a necessidade moral para que o agisse assim. Como resultado da queda, o homem passou a ser escravo do mal. A vontade caída tornou-se uma fonte de mal no lugar de uma fonte do bom. Depois da queda o homem tornou-se livre pecar, porque ele tornou-se servo do pecado. E todo servo do pecado serve seu mestre de boa vontade. Ele faz com prazer a vontade do seu mestre. Para que o pecador se mova da escravidão para liberdade, Deus precisa exercer a sua graça. Agostinho disse que antes de ser redimido, o homem ainda não é livre para fazer o que é certo. Essa capacidade vem pela graça mediante a fé. Agostinho, então, trabalha o ponto em que a liberdade não vem da ação do homem, pois ele é escravo do pecado. Mas a liberdade é um dom da graça divina. É Deus quem prepara o coração para crer. Frequentemente se diz que a visão de Agostinho é de que Deus salva o povo que não deseja ser salvo, ou que sua graça opera contra a vontade desse povo, forçando-o a escolher e levando-o para o seu reino debatendo-se e gritando contra sua vontade. Mas a visão da graça que Agostinho argumenta é que a graça de Deus opera no coração de tal modo que faz com que a relutância anterior do pecador se transforme em boa vontade. A pessoa agora deseja Cristo porque Deus criou um novo espírito dentro dela. Deus faz com que a vontade seja justa removendo a dureza do coração e convertendo a vontade oposta. A visão de Agostinho da graça que liberta está ligada à sua visão de predestinação. Ele argumenta que Deus converte os desejos maus em desejos bons. Ele faz isso pelos eleitos. Evitando qualquer visão de eleição baseada no conhecimento prévio de quem iria crer.
Calvino escreve que o homem, é voluntário da prática do pecado, e isso o torna sem vontade, e ele não pode mover-se e agir a não ser em direção ao mal. E a necessidade de pecar é visível na vida do homem. A libertação do pecado que Deus proporciona ao pecador. Calvino cita a carta de Paulo aos filipenses, na qual o apóstolo fala de Deus tendo começado a boa obra entre nós (Fl 1.6). Calvino interpreta isso como o início da conversão na vontade. A obra do Espírito na vontade é o que inicia conversão a Cristo. Ou seja, a boa obra do Espírito exerce em nosso coração um desejo, um amor e uma preocupação com a justiça; desviando, treinando e guiando o nosso coração para justiça. Calvino claramente não pretende ensinar que a vontade é destruída na conversão. Antes, ela é mudada na sua orientação. A direção é mudada. Considerando que a vontade não-convertida é dirigida somente para o mal, a vontade regeneradora é agora dirigida para Deus.

Conclusão:

O novo nascimento é um milagre. É a ação bendita do Espírito Santo que produz vida onde imperava a morte e a condenação. É a causa que gera a mudança de vida; a disposição para deixar tudo, negar a si mesmo, tomar a cruz e seguir após o Senhor Jesus Cristo. É o que possibilitou o apóstolo bradar que o mundo para ele estava crucificado e ele para o mundo. Só o novo nascimento pode abrir os ouvidos para que ouçamos a Palavra de Deus e a recebamos; só a mente regenerada pode atinar para o ensino que para este mundo é loucura. A salvação é a principal das bênçãos. É o que nos concede acesso ao Pai, por meio de Cristo Jesus, sem que sejamos consumidos e a nossa existência contada entre os transgressores. O novo nascimento amplia os horizontes; dá sentido à vida, conforma-a à imagem de Cristo; torna-a proveitosa para a causa do reino e sua perda na verdade é ganho, pois ascende-nos à presença gloriosa d’Aquele que é a suma de todas as coisas e o fim maior de nossa existência. A igreja de Cristo só pode ser constituída daqueles que experimentaram a bênção da nova criação; é a militância dos servos que exalam o perfume do Salvador, que batalham num mundo cruel contra as hostes de um inimigo feroz e irado, porém derrotado. O novo nascimento é a dádiva do Pai, em Cristo, outorgada e confirmada pelo Espírito, que nos dá vitória final sobre a morte.