segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Igreja Emergente



IGREJA EMERGENTE

INTRODUÇÃO

Este artigo procura fazer uma análise preliminar do movimento denominado “igreja emergente” e identificar quais são as principais influências que recebeu. Ainda que seja difícil definir o movimento, por causa de suas características pós-modernas, essa é a primeira proposta do artigo. Após uma definição preliminar, o autor apresenta a origem e representatividade do movimento, além de suas principais características, analisando a sua filosofia pelos olhos dos seus principais proponentes. As características mais destacadas do movimento resumem-se em suas atitudes de pluralismo e protesto, demonstradas através de sua definição missional, uso da linguagem, expressão de culto e pregação.




















 DEFINIÇÃO

Por ser um movimento característico da pós-modernidade, a igreja emergente é difícil de ser definida e alguns autores até mesmo hesitam em dizer que ela pode ser caracterizada como um movimento. Os próprios proponentes dizem que é uma “conversação” emergente.
No que diz respeito à história, Gibbs e Bolger afirmam que o termo igreja emergente foi usado pela primeira vez por Karen Ward (Igreja dos Apóstolos, Seattle), quando ela criou um site na Internet denominado EmergingChurch.org. Segundo os autores, não havia qualquer intenção de se criar um movimento.
Brian McLaren, um dos nomes mais reconhecidos dentro do movimento, começou a usar o termo “emergente” em seus livros, especialmente quando escreveu A Generous Orthodoxy. Para McLaren é necessário que a igreja descubra e desenvolva uma ortodoxia diferente da ortodoxia praticada pela igreja evangélica durante o período do pós-modernismo. É necessário, segundo ele, desenvolver uma ortodoxia generosa em oposição à ortodoxia inflexível do período pós-modernismo. Ele afirma: O significado de emergente é uma parte essencial do ecossistema da ortodoxia generosa... Pense em um corte transversal numa árvore. Cada anel representa não a substituição dos anéis anteriores, não a sua rejeição, mas a sua adoção, a sua inclusão em algo maior. Segundo esse autor, a idéia de uma “ortodoxia generosa” seria a expressão mais abrangente do conceito de cristianismo, uma expressão, pluralista, característica da pós-modernidade e, portanto, um sistema cristão adaptado ao seu tempo.
A proposta de McLaren aponta para uma mudança profunda do que está acontecendo até então no meio evangélico, o reflexo de uma nova mentalidade que está se consolidando na pós-modernidade. Ainda que se encontrassem grandes diferenças entre as comunidades cristãs no período moderno, as propostas do cristianismo evangélico das décadas de 80 e 90 do século passado eram basicamente diferenciadas pelas características daquela geração. Ainda que valores estéticos e teológicos fossem diferentes, havia a possibilidade de identificação pontual dessas diferenças, ou seja, o cerne ainda permanecia o mesmo. Essas diferenças se davam mais por estilo e estrutura teológica do que por uma abordagem filosófica da vida como um todo. Necessitando adaptar-se ao seu tempo, as igrejas consideradas evangélicas tinham confissões bíblicas diferentes e estilos de culto, música, pregação e eclesiologia que eram destinados a diferentes públicos, mas mantinham uma base comum. Nesse período formou-se a “igreja dentro da igreja”, para satisfazer anseios de gerações diferentes, mas ainda era a mesma igreja. Esse modelo é comum no Brasil, onde vemos várias igrejas com cultos em separado e com estilos diferentes. Dessas comunidades passaram a enfatizar os ministérios para jovens adultos, a adotar estilos “com propósitos”, modelos de igreja em células e tantas outras propostas surgidas nesse tempo.
No entanto, Dan Kimball defende que esses modelos tiveram um tempo curto de duração e tornavam-se rapidamente insatisfatórios. Para ele, a igreja precisava aprender a falar uma linguagem totalmente nova, com o fim de alcançar a geração pós-moderna. Só uma mudança de estilos de culto não mais seria suficiente para alcançar a nova geração. Confirmando essa perspectiva, uma das obras de Mclaren reivindica “um novo tipo de cristão”, o cristão pós-moderno. Nesse livro, McLaren apela claramente aos cristãos a que abracem o pós-modernismo e se adaptem à maneira pós-moderna de pensar. Dentro desse espírito, para alguém ser emergente ele deve negar, inclusive, a necessidade de uma declaração de fé e qualquer forma que sugira um dogma comum.           Tony Jones um dos proponentes da igreja emergente e coordenador nacional, explica que a idéia de ter uma declaração de fé é “trilhar uma estrada pela qual não queremos andar”. Logo, estamos diante de algo que existe como um movimento, mas, ao mesmo tempo, pela sua fluidez de suas propostas, é essencialmente caracterizado pela ambigüidade.
Segundo McLaren, nossa compreensão do evangelho muda constantemente à medida que nos engajamos na missão em nosso mundo complexo e dinâmico, à medida que descobrimos que o evangelho tem um rico de significados a oferecer, abrindo-nos camadas inexploradas de profundidade, revelando facetas não contadas de percepção e relevância. De certa forma este modelo ainda prevalece entre a geração adulta evangélica no Brasil, Dessa forma, a ambivalência do pensamento é prontamente aceita e até celebrada pelos líderes do movimento.
A igreja emergente é um movimento da igreja protestante, iniciado por americanos e ingleses, com a finalidade de alcançar a geração pós-moderna. Refletindo as necessidades e os valores percebidos desta geração, as igrejas emergentes enfatizam o autêntico, a expressão criativa e uma perspectiva sem julgamentos, procurando reavaliar as doutrinas, ou seja, sempre reformando a doutrina reformada. Igreja emergente é simplesmente um termo usado para denominar as igrejas que nasceram ou que foram estruturadas para um contexto pós-moderno, pós-cristão de ser igreja no mundo de hoje. Podemos então, provisoriamente, definir a igreja emergente como uma reação ao cristianismo do período moderno sob a pressuposição de que o cristianismo, como se desenvolveu no modernismo, tornou-se arcaico e irrelevante para a geração contemporânea. É um movimento de reação à igreja moderna. Pode-se dizer que o termo igreja emergente é usado de maneira conveniente para descrever movimentos similares ou relacionados que surgiram na última década e que tendem a pensar em sintonia com as mudanças propostas pelo pós-modernismo dentro do campo das artes, da literatura e do discurso público. As expressões como “não somos assim” ou “esses pontos são questionáveis” serão comuns diante de qualquer tentativa de definição do movimento. Cabe salientar que o movimento possui manifestações desde as mais brandas até as mais radicais.

ORIGENS E CARACTERÍSTICAS

A epistemologia da igreja emergente, ou seja, a forma como conhecemos as coisas, é essencialmente voltada para a experiência. Esse é um aspecto que, segundo Carson, contrasta com a epistemologia do período moderno, pois no pós-modernismo “muito do que ‘sabemos’ é moldado pela cultura na qual vivemos, é controlado pelas emoções, valores estéticos e herança”. Esse conceito aplicado ao movimento do presente estudo implica que não é possível ser emergente sem ter uma experiência emergente. Logo, uma das tônicas do movimento é que antes de ser, primeiro é fundamental pertencer. A comunidade projeto242, existente no Brasil, traz a seguinte proposta comunitária: “Queremos oferecer às pessoas um local onde elas possam se sentir parte antes mesmo de acreditar”. Essa abordagem pragmática, fundamentada na experiência, faz com que a análise do movimento apele para relatos pessoais de suas experiências emergentes.
Geograficamente o movimento teve origem no Reino Unido, ligado a uma cultura fundamentada na experiência, a cultura clubber. Essa cultura, na verdade uma subcultura, é caracterizada pela migração dos jovens suburbanos para o centro das cidades durante os fins de semana, buscando um significado tribal para a existência. Os ajuntamentos de jovens dentro dessa subcultura propiciaram o aparecimento de “tribos” cristãs entre a população, e estes, por sua vez, produziram movimentos que, mais tarde, passariam a identificar-se como emergentes.
A influência do movimento dentro da cultura norte-americana deu-se em um contexto bem diferente, ou seja, dentro do contexto de uma subcultura cristã já existente. Nos anos 80 desenvolviam-se no meio da igreja evangélica norte-americana as igrejas GEN-X, ou geração X, equivalente à geração “coca-cola”. Essas comunidades são caracterizadas pelo uso de música eletrônica e alto consumo de álcool e comprimidos de ecstasy. Em suas expressões mais radicais, jovens entre 18 e 35 anos dançam ao som de música eletrônica durante horas, normalmente até o raiar do dia. Essa subcultura está em crescimento nos grandes centros urbanos brasileiros e alguns poucos trabalhos acadêmicos estão sendo produzidos sobre ela. Nessa época os cultos ofereciam música em alto volume, vida apaixonada, pregações informais, relacionamentos friends e mais adiante a presença de expressões artísticas no culto, inclusive cerimônias à luz de velas. Todavia, esse formato de igreja e culto não se mostrou efetivo no alcance da geração pós-moderna. Para tanto, seria necessário um passo a mais. Essa necessidade está, supostamente, sendo atendida mediante o surgimento das comunidades emergentes, cuja proposta é proporcionar um “retorno refrescante a um ministério focalizado em Jesus, essencialmente sagrado e voltado para a experiência de cada pessoa”. Dessa forma, os líderes do movimento preferem divulgar as suas idéias através de histórias ou relatos pessoais, pois segundo eles essa foi uma marca fundamental do desenvolvimento do cristianismo. Normalmente a espiritualidade é abordada como uma caminhada ou viagem espiritual e na literatura as idéias são expressas pela boca de diferentes personagens e diálogos. O subtítulo do livro de McLaren, A New Kind of Christian, é “um conto de dois amigos em uma jornada espiritual”. Vários líderes preferem chamar o movimento de uma “conversação emergente”. Um desses relatos típicos pode ser encontrado no testemunho de Dan
Kimball, autor de The Emerging Church, considerado um dos líderes do movimento.
Kimball relata a sua luta em busca de respostas para o motivo pelo qual a igreja adaptada ao usuário ou orientada para o consumidor deixou de satisfazer e de ser efetiva para a geração nascida na pós-modernidade. Ele era pastor de uma igreja com características da geração X nos anos 80 e durante um bom tempo aplicou as técnicas e modelos de uma igreja tipicamente moderna. Cabe observar que ele obteve considerável sucesso naquela empreitada em termos de padrões numéricos. Normalmente essas igrejas eram fundadas e sustentadas por mega-igrejas e usadas como um braço para atender a demanda jovem. No entanto, Kimball começou a perceber que os programas e projetos que havia desenvolvido de modo eficaz durante algum tempo já não eram mais eficientes. Ele afirma ter observado que tanto o conteúdo quanto a forma de seus projetos não comunicavam muita coisa à geração jovem pós-moderna e isso fez com que ele se lançasse à busca de formas alternativas de ministério. Foi nesse contexto que ele faz busca de metodologias para aplicação em seu pastorado desde o início dos anos 80. Com o fim de serem atraente para a geração pós-moderna, não só empregando estratégias, mas pensando de maneira pós-moderna. Os critérios de avaliação do sucesso dessa igreja emergente deixaram de ser numéricos e passaram a ser missionais. As expressões do movimento se desenvolvem de maneiras variadas. Mais recentemente, Brian McLaren abriu um site em que o nome igreja não está presente. Esse site tornou-se uma espécie de centro de comunicações e divulgação de eventos, palestras e mensagens do movimento. Ali são publicadas várias viagens nas quais os líderes emergentes, incluindo McLaren, têm andado por toda a Europa, Estados Unidos, Austrália e vários outros países divulgando as suas idéias. Anualmente, nos Estados Unidos, acontece a Convenção Nacional de Pastores, que reúne quase dois mil participantes. Um número significativo deles participam de uma linha do evento orientada para líderes que se consideram emergentes ou estão interessados nessas idéias. Outro grande movimento ligado à igreja emergente e seus líderes é Fusion Conference, uma conferência específica para cristãos entre os 20 e 30 anos, que ocorre em três estados norte-americanos diferentes e reúne mais de 1800 líderes e jovens sob o lema “fé + vida”. Tendo idéia da origem e representatividade do movimento, há que se observarem suas características.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Carson afirma que a igreja emergente é essencialmente um movimento “de dentro” e se opõe à igreja evangélica tradicional característica das últimas décadas do século. Na visão dos líderes emergentes aquela forma de ser igreja é cativa dos conceitos do absolutismo da era moderna e o movimento emergente veio trazer a liberdade necessária para um cristianismo relevante na pós-modernidade. Logo, uma das marcas principais do pensamento emergente é a aversão ao absolutismo, ou seja, a forma de pensar do modernismo, que admite o conceito de verdade absoluto com bases fundamentalistas. Conseqüentemente, esse movimento apresenta uma série de características comuns, algumas das quais são relacionadas abaixo.



Pluralismo

A proposta emergente enfatiza os sentimentos e afeições sobre o pensamento linear e a racionalidade; a experiência em contraposição à verdade; a inclusão ao invés da exclusão; a participação em contrapartida ao individualismo. Essas seriam as bases para afastar a crença cristã na verdade “absoluta” e levar à autenticidade, ao “novo tipo de cristão”, pregado por McLaren. Assim, a característica dominante da igreja emergente é a não afirmação de absolutos e a aceitação das diferenças, a saber, a marca fundamental do pluralismo pós-moderno. Grande parte das obras escritas pelos líderes emergentes demonstra o tipo de pluralismo desejado. O subtítulo do livro de McLaren, A Generous Orthodoxy, revela o espírito que projeta a sua teologia: Por que sou um cristão missional, evangélico, pós-protestante, liberal-conservador, místico-poético, bíblico, carismático-contemplativo, fundamentalista calvinista, anabatista-anglicano, metodista, católico, verde, deprimido, mas esperançoso, emergente e inacabado. Cada uma dessas expressões transforma-se em título de um dos capítulos do livro de McLaren, no qual ele aplica as categorias do que chama de “pensamento emergente”. Segundo ele, o relativismo e o pluralismo filosófico não permitem que o cristão permaneça fiel à Escritura. Por outro lado, o pensamento moderno está morto e as críticas ao absolutismo modernista são muito fortes, sem possibilidade de serem combatidas. A única saída, segundo ele, é o pensamento emergente da ortodoxia generosa, como citado anteriormente: “Pense em um corte transversal numa árvore. Cada anel representa, não a substituição dos anéis anteriores, não a sua rejeição, mas a sua adoção, a sua inclusão em algo maior”. Nesse sentido, no pensamento emergente nunca se chega a um ponto final, mas emerge-se em algo novo, sempre plural, sempre inclusivo. Simon Hall, líder da comunidade Revive, em Leeds, Reino Unido, afirma: Meu alvo para a comunidade não é ser “pós” tudo. Nós somos evangélicos e carismáticos e liberais e ortodoxos e contemplativos e ligados à justiça social e ao culto alternativo. Essa postura ilustra claramente o tipo de pluralismo almejado nessas comunidades.





Protesto

A marca do pluralismo leva o movimento emergente a uma posição de protesto. Praticamente toda a sua liderança vem de dentro da base do cristianismo evangélico tradicional e fundamentalista e manifesta o seu descontentamento com a instituição de origem. Da mesma forma como vimos a respeito de Kimball e sua percepção descontente com a igreja tradicional, Mike Yaconelli editou Histórias de emergência: movendo-se do absoluto para o autêntico. No livro encontramos narrativas de vários líderes emergentes que possuem um tom semelhante: a autenticidade não estava presente na igreja. O próprio nome da igreja de Kimball reflete essa idéia, pois Vintage significa algo genuíno, de qualidade, em oposição à igreja “enlatada” e supostamente não genuína do século 20. Para McLaren o que os evangélicos precisam é do novo cristão, de uma nova forma de seguir a Jesus que emerge dos escombros do cristianismo dividido por lutas teológicas, da negligência das responsabilidades sociais e da tirania do capitalismo conservador da modernidade. Para ele, Cada um desses novos desafios da pós-modernidade requer que os líderes cristãos criem novas formas, novos métodos, novas estruturas – e requer deles que encontrem novo conteúdo, novas idéias, novas verdades e novo significado que sustente os novos desafios. O protesto, então, é resultado da forma incoerente como vive o cristianismo que se diz bíblico. Esta inquietação é relatada quando McLaren diz que Através desses anos um sentimento desconfortável começou a me mostrar que o retrato de Jesus que eu encontrei no Novo Testamento não se encaixava com a imagem do cristianismo projetada pelas instituições religiosas, tele-evangelistas carismáticos, representantes religiosos na mídia – e, às vezes, minha própria pregação. É comum encontrar nos relatos emergentes a noção de que as estruturas eclesiásticas do modernismo e suas hierarquias são antibíblicas. Em igrejas emergentes não se encontram pastores “efetivos” ou principais. Até mesmo na liderança do movimento encontra-se o constante debate. Quando Tony Jones foi apontado como diretor nacional do site emergent-US, houve grande debate e acusações de que o movimento estaria caminhando para aquilo que ele negava em sua essência: estruturas hierárquicas. Depois do debate o seu título foi mudado para “coordenador nacional” do movimento emergent-US. Esse perfil de protesto marca o movimento como desconstrucionista.
A igreja evangélica no final do século 20 precisa ser desconstruída para ser reconstruída, a começar dos conceitos de verdade absoluta que a mesma mantém. Para Kimball a igreja vive um momento de transição entre o modernismo e pós-modernismo e isto exige que as bases do cristianismo moderno sejam realinhadas para a geração pós-moderna. Afirmam Gibbs e Bolger: As igrejas emergentes estão diante de uma tarefa formidável à medida que se esforçam para distinguir entre as partes da vida da igreja que tem as suas raízes na cultura moderna, a serem descartadas, e as partes que são evangelho e devem ser mantidas. Esse protesto soma-se ao protesto contra a teologia sistemática. Segundo McLaren: As teologias sistemáticas são construções maravilhosas do fim do período medieval-moderno; para mim, são como as catedrais do tempo medieval. Embora poucos de nós adoremos em catedrais, nos as valorizamos e sabemos que deveriam ser preservadas pela sua beleza. A simetria intelectual e a grande estrutura
das teologias sistemáticas igualmente deveriam ser preservadas e admiradas. Mas o meu palpite (e esperança) é que não vamos viver de teologia sistemática somente, no futuro, mas vamos aprender como habitar a história bíblica... E aplicá-la em nossas vidas. Logo, o protesto emerge em todas as frentes, desde as estruturas geradas pela teologia evangélica até a própria teologia e a base epistemológica sobre a qual ela está fundamentada.

Missional

O termo missional é freqüente na literatura emergente. Quase todas as descrições feitas do movimento também apontam para esta como outra de suas principais características. Nesse contexto, um dos conceitos básicos de “ser missional” é ser autêntico. Gibbs e Bolger descrevem as igrejas emergentes como comunidades que praticam o caminho de Jesus dentro das culturas pós-modernas. Essa definição envolve nove práticas. Igrejas emergentes: (1) identificam-se com a vida de Jesus, (2) transformam o ambiente secular e (3) vivem vidas comunitárias intensas. (4) acolhem os estranhos, (5) servem com generosidade, (6) participam como produtoras, (7) criam como seres criados, (8) lideram como um corpo e (9) tomam parte nas atividades espirituais. Na verdade, esse é um aspecto positivo do movimento, exatamente por demonstrar uma intensa preocupação com os incrédulos e uma considerável eficiência no alcance de não-cristãos. Por outro lado, as ênfases tendem a levar os grupos a uma relação extremamente horizontal, na qual a pregação do evangelho e a ação social, por exemplo, tornam-se indistintas e os discursos quase que se confundem, em nova embalagem, com os da teologia da libertação. Assim sendo, a ação social, como ato de amor, já é pregação e pode dispensar a proclamação. Na igreja moderna a ordem seria crer e depois pertencer. No movimento emergente a idéia é primeiro pertencer e depois crer.
Linguagem, culto e pregação
Uma das características visíveis da igreja emergente está no seu uso da linguagem e na sua forma de manifestação de culto, que são prontamente observáveis nos sites e literatura. Kimball tem vários capítulos descritivos em seu livro e nesta seção utilizo bastante o seu material. Um dos argumentos fundamentais é que a comunicação para a mente pós-moderna não pode acontecer de forma linear. Para a geração que cresce nos tempos contemporâneos a comunicação precisa acontecer em forma de rede, como um site na internet, onde as possibilidades de continuidade são inúmeras e, na verdade, ninguém sabe onde ela vai terminar. Uma das propostas fundamentais na comunicação emergente é a criação de um culto experimental e multi-sensorial, numa atmosfera trabalhada por luzes, velas, símbolos, mensagens multimídia, arte estática e em movimento, espontânea e participativa, dando sempre lugar à experiência. Isto seria uma reação ao culto na igreja moderna que coloca os adoradores mais como expectadores e que exige muito pouco envolvimento no ato de adoração. Na Igreja líquida, por exemplo, o culto é descrito como “Intenso e apaixonado. Sonhador e reflexivo”. Os elementos de culto propostos por Kimball parecem ser sérios e ponderados. Há um incentivo ao uso da música sem permitir que a letra seja esquecida, bem como as leituras bíblicas feitas antes dos cânticos, as ofertas, a Santa Ceia, a leitura de credos e a oração. Além do mais, um capítulo inteiro do livro é dedicado à forma da pregação. Existem vários aspectos positivos nas declarações feitas por Kimball, como, por exemplo, o fato de que no ato de cantar não se deve ser apenas um observador, alheio ao que se está cantando. Em sua comunidade, os músicos costumam ficar ao fundo do auditório para não se tornarem o foco durante os cânticos e não darem a impressão de uma apresentação musical. Contudo, ainda ocorrem várias práticas estranhas ao protestantismo histórico e que se associam mais ao catolicismo romano, algumas delas bem características do misticismo medieval e até pagãs. Um dos exemplos oferecidos pelo próprio autor do livro é a queima de incenso durante a experiência das ofertas, dando ao adorador a noção de que “as suas orações e ofertas estavam, na verdade, subindo a Deus como um aroma agradável”. Várias das igrejas emergentes encontradas na internet também possuem as suas estações de oração nas quais os participantes circulam, dando “passos de oração”. Segundo Kimball, em um dos programas de sua igreja as estações representavam cada uma das disciplinas ou aspectos de uma vida cristã sadia. Encontravam-se nelas objetos relacionados ao seu tema. Em uma das estações, descreve Kimball, colocaram uma cruz feita de espelhos onde cada um poderia contemplar-se na cruz e ter uma noção de como Cristo havia levado os pecados nela. Todo o experimentalismo tem como objetivo atrair o jovem pós-moderno em busca de experiências sensoriais e levar-lhe a mensagem do evangelho. Existem, inclusive, sugestões de como o ambiente de culto pode ser preparado para oferecer uma atmosfera mais favorável ao culto multisensorial. Propõe-se a não linearidade dos assentos, mas a circularidade do ambiente e a presença de simbologia por todos os lados. Dentro de todo este contexto encontramos muito da busca de uma “nova espiritualidade” mística.  O conteúdo da pregação emergente, para ser relevante, vê a Bíblia como “uma narrativa viva que ilumina a nossa história e não como uma verdade proposicional que deve ser observada”.





















CONCLUSÃO

A busca da comunicação efetiva dentro da cultura é, com certeza, um ponto que deve levar a igreja à reflexão, e nisto o movimento emergente nos chama a atenção. O perigo de tornar-se irrelevante é sempre presente para a igreja em qualquer tempo e, com certeza, a igreja de nosso tempo deixa de falar efetivamente em muitas situações, principalmente pelo medo de expor-se e viver no mundo. Conforme a oração do Senhor em João 17, não somos do mundo, mas vivemos nele e nele temos que pregar o evangelho de Cristo. Essa pregação precisa ser compreensível e relevante, e o uso de uma linguagem efetiva e compreensível ao homem dos dias de hoje é fundamental. O lado negativo desse aspecto é que o movimento emergente prega um tipo de “relevância a qualquer custo”. Para ser relevante, o movimento (ou aqueles que são reconhecidos como seus líderes) tem proposto a negação de fundamentos bíblicos essenciais, como a caracterização da verdade bíblica.
Outro ponto importante é o desejo da chamada igreja emergente de ser missional. Se as comunidades emergentes tomarem o termo missional como o desejo de autenticidade, a negação da hipocrisia e do espírito farisaico e a vontade de não manter estruturas que facilitem esse estado de coisas, estarão, com certeza, mais próximas de apresentar o verdadeiro evangelho com impacto em meio à sua geração e cultura. Creio que algumas delas provavelmente o farão. O lado negativo, no entanto, está na adoção do conceito missional inclusivista. Essa proposta leva o movimento ao radicalismo do anti-radicalismo, a ponto de propor que a mensagem do evangelho de Cristo não é radical, do tipo “quem não é por mim é contra mim”, mas uma mensagem condescendente, receptiva de diferenças e não-condenatória. Afinal, nesse sistema de pensamento tudo o que se propõe como exclusivo é considerado preconceituoso. Outro aspecto positivo do desejo missional é o envolvimento das comunidades com ações de caráter social que, de fato, ajudam e tocam as classes menos favorecidas da sociedade, buscando a erradicação da fome e da pobreza. Todavia, como todo envolvimento da igreja em causas sociais, as comunidades emergentes correm o risco de fazerem da causa social tanto o seu fim último como a sua motivação primeira.
Outro grande perigo apresentado pelo movimento é a adoção de práticas pagãs na igreja. As práticas de meditação e contemplação propostas por muitos de seus líderes são contrárias aos ensinamentos da Escritura e se configuram como tentativas idólatras de alcançar a divindade. É preocupante ver os passos que estão sendo dados em nome de uma busca espiritual que desconsidera a Escritura como fonte de toda a verdade. Pode a igreja viver assim? Não creio. Uma igreja em que o fundamento básico, a verdade, está solapado, não poderá sobreviver, porque necessariamente deixará de ser igreja. Portanto, a igreja emergente, seja como movimento ou como igreja, deve passar, assim como já passaram muitos outros movimentos contemporâneos que começaram como “a resposta” para os problemas da igreja. A negação aberta das características de autoridade, convicções e expressão doutrinal clara apontam para a direção oposta do que as Escrituras afirmam e a igreja experimentou e comprovou durante toda a sua história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário