segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Teísmo-Aberto


Teísmo-Aberto


Introdução:
             Através deste artigo vamos observa que tanto a glória de Deus quanto o genuíno bem seus filhos são irreparavelmente prejudicados pela história proposta do teísmo aberto. Segundo essa proposta Deus é transformado para parecer muito mais como nós. Durante esse processo, nós, seus filhos, somos transformados de modo a parecer mais semelhantes a Deus: passamos a ser responsáveis por realmente moldar a história futura de nossa vida por meio das escolhas que fazemos; e com isso passamos a influenciar a Deus, até mesmo tentando fazê-lo mudar de idéia, na medida em na oração, adotamos a soberania humana. Em tudo isso, o brilho e o esplendor da glória de Deus ficam enevoados que se tornam irreconhecíveis. E assim atribuímos mais dignidade ao ser humano do que a Deus.

            “Deus é Deus de amor e, como tal, respeita você e os seus desejos. Ele não é alguém que “força” sua vontade sobre outra pessoa. Desse modo, Deus não está interessado em planejar seu futuro por você, nem em deixar-lhe sem direito de voz sobre o que fazer em sua vida. Na verdade, grande parte do futuro ainda não foi planejada e Deus espera que você tome suas próprias decisões e escolha o seu rumo, de maneira que ele saiba como melhor traçar seus próprios planos. É claro que ele deseja que você o consulte durante todo o processo, embora o que você vier a decidir seja sua própria escolha, e não dele. O que Deus deseja é que você e ele trabalhem juntos, traçando o rumo de sua vida. E você pode estar seguro de que ele fará tudo o estiver ao alcance dele para ajudá-lo a ter a melhor vida que você pode ter”. “Quando a tragédia entrar em sua vida, por favor, não pense que Deus tem algo a ver com isso! Deus não deseja que a dor e o sofrimento ocorram e, quando isso acontece, ele se sente tão mal com a situação como aqueles que estão sofrendo. Não pense que, de alguma maneira, essa tragédia deva cumprir algum bom propósito final. O mal que Deus não deseja acontece a todo o momento e, com freqüência, não serve para nenhum bom propósito. Porém, quando sobrevém a tragédia, podemos confiar que Deus está conosco e nos ajuda a reconstruir o que se perdeu”.
            Todas essas afirmações são compatíveis com um movimento relativamente novo dentro de nossas igrejas evangélicas, chamado “teísmo-aberto”. Esse movimento é assim denominado pelo fato de seus adeptos verem grande parte do futuro como algo que está em “aberto”, e não fechado, mesmo para Deus. Boa parte do futuro está indefinida e, consequentemente, Deus o desconhece. Deus conhece tudo o que pode ser conhecido, assegura os teístas abertos. Mas livres escolhas e ações futuras, por não terem ocorrido ainda, não existem e, desse modo, Deus não pode conhecê-las. Deus não conhece o que não existe – afirmam eles – e, uma vez que o futuro não existe, Deus não pode conhecê-lo agora. Mais especificamente, ele não pode conhecer, de antemão, uma grande parte do futuro que virá à tona à medida que criaturas livres decidirem e fizeram tudo segundo lhes aprouver. Em conformidade com isso, momento após momento Deus aprende o que fazemos, e seus planos de vem constantemente se ajustar ao que acontece de fato, na medida em que isso for diferente do que ele previu.
            Então, o que se pode dizer da visão aberta? Ou melhor, por que cristãos seriam atraídos por esse entendimento sobre Deus? Deixe-me sugerir três razões principais que os teístas abertos apresentariam. Em primeiro lugar, aqueles que sustentam a perspectiva do teísmo aberto creem que o relacionamento com Deus é muito mais vital e “real” quando o Deus com quem interagimos não souber, de antemão, o que faremos. Afinal, se Deus não souber o que você dirá, fará ou decidirá até que você realmente tiver escolhido. Ao aprender isso, Deus pode interagir com você em relação ao que foi decidido e, assim seu relacionamento pode assemelhar-se muito mais ao que em geral pensamos ser um “relacionamento verdadeiramente pessoal”. Temos que admitir: todos reconhecemos que Deus conhece muito mais do que nós diz o teístas aberto; afinal de contas, ele conhece o passado e o presente perfeitamente. Porém, se ele também conhecer o futuro perfeitamente, isso transformaria nossa interação com ele em uma farsa. Se Deus conhecer todo o futuro definitiva e perfeitamente, ele conhece cada palavra que você proferirá, cada escolha que você fará e cada ação que você praticará. Então, qual seria a reação de Deus diante de suas escolhas e ações, se ele as conhecesse de antemão? Deus jamais poderia realmente surpreender-se, deleitar-se ou compadecer, ou mesmo se relacionar com você de “maneira verdadeira”. Nenhum relacionamento verdadeiro seria possível, argumentam os teístas abertos, se Deus conhecesse todas nossas livres escolhas e ações antes de nós as praticarmos.
             Em segundo lugar, quando o sofrimento e a aflição entram em nossa vida, os teístas abertos crêem que sua visão sobre Deus é muito confortadora. Além do mais, pensam que sua solução para o “problema do mal” é muito mais satisfatória do que qualquer alternativa proposta por uma visão teológica mais tradicional. O teísta aberto diz que você deveria sempre compreender que Deus não planejou que o sofrimento entrasse em sua vida. E, certamente, ele não está usando isso tudo em sua vida a fim de cumprir algum propósito oculto. Pelo contrário, diz o teísta aberto, todo mal vem à tona pelo uso errado do livre-arbítrio que Deus deu a suas criaturas morais. Como declara Greg Boyd um importante defensor do teísmo aberto; “a visão aberta, segundo eu proponho, permite-nos dizer diretamente, de modo inequívoco, que a fonte última de todo mal se encontra na vontade de livres agentes, e não em Deus” assim, de fato não existe qualquer “agenda oculta por trás do sofrimento; Deus não está “secretamente” causando sua aflição. Como sabemos disso? Porque Deus é amor e ele simplesmente não desejaria o sofrimento para quem quer que fosse. Muitas vezes, ele nem mesmo sabe qual aflição está por vir e quão severa ela será. Logo, permanece este fato: ele não quer nem deseja que o sofrimento ocorra. Uma questão natural, portanto, é esta: se Deus criou o mundo ele sabia que esse indesejável sofrimento seria parte da criação que traria à existência? Em caso afirmativo, o que justifica Deus ter criado um mundo que contém o tipo terrível de sofrimento que experimentamos? De acordo com o ponto de vista aberto, Deus sabia que o sofrimento seria uma possibilidade no mundo criado, mas não sabia que realmente surgiria. Pois bem, simplificando tudo, quando Deus decidiu que tipo de criação ele traria à existência, optou pela existência de criaturas “livres”. Contudo, a verdadeira liberdade significa que,  muito embora Deus deseje que as pessoas empreguem sua liberdade para o bem, ele não pode dar-lhes a capacidade de serem livres e, ao mesmo tempo, controlar a forma como elas utilizam sua liberdade. Isso seria uma contradição, argumentam os proponentes do teísmo aberto. Então, ao dar liberdade ao ser humano, Deus aceita a possibilidade de que as pessoas venham a empregar o dom da liberdade para causar o mal. Em vez de usá-lo para amar, elas podem vir a empregá-lo de modo vil, prejudicial e vingativo. Assim, Deus sabia que o mal indesejado era uma possibilidade, mas não sabia se o mal, de fato, adviria. Dessa maneira, como se justifica o fato de Deus ter criado um mundo que – conforme ele sabia - poderia conter o mal? Isso justifica – diz o teísta aberto – a simples possibilidade de a liberdade humana ser usada para o bem forneceu a justificativa para que Deus criasse um mundo em que ele sabia que o mal também poderia vir a existir. Como essa resposta pode ser mais satisfatória ao problema do mal do que as tradicionais respostas dos teólogos cristãos? Os teísta abertos argumentam que, se Deus conhecesse o futuro completo do mundo antes de criá-lo, isto é, se ele soubesse de toda atrocidade, todo estupro, todo assassinato brutal, toda injúria maliciosa, todo genocídio, é inimaginável que ele tivesse criado este mundo. Certamente, o mal deste mundo não é o que Deus queria, e Deus lamenta todas as ocorrências específicas do mal. Entretanto, o ponto decisivo é o seguinte: Deus simplesmente não teria como saber de antemão que o mal surgiria, nem que teria o alcance que teve, e ele nunca deseja que esse mal aconteça. Portanto, eles têm a sensação de que Deus é absolvido das acusações de que tem responsabilidade, como criador, pelo mal no mundo.
              Em terceiro lugar, os teísta abertos afirmam que sua visão explica melhor o próprio ensino das escrituras a respeito de Deus. Isto é. Ainda que a visão aberta não tenha sido defendida por nenhum segmento ou ramo da igreja ortodoxa, católica romana ou protestante, ao longo de toda história, os teísta abertos afirmam com ousadia que o ponto de vista deles é, na verdade, mais bíblico. Atente para Jeremias 19.5. Nesse versículo, Deus denuncia o mal e a idolatria de Israel ao agir com tamanha perversidade; “nunca lhes ordenei, nem falei, nem me passou pela cabeça. A partir dessa declaração, parece que Deus é desconhecedor das ações que Israel tomará, de tal modo que somente ao agirem o conhecimento acerca da atitude deles “entra” na mente de Deus. Isso mostra claramente – diz o teísta aberto – que Deus não conhece de antemão quais ações Israel realmente executará, mesmo que ele sempre tenha sabido o que possivelmente viriam a fazer. Conforme comenta Greg Boyd, se Deus de fato sabia exatamente o que Israel iria fazer, mas nos diz que mesmo as atitudes deles não lhe passaram pela cabeça, isso implica uma clara “contradição”! É muito melhor, diz ele, levar o sentido dessa passagem ao pé da letra e reconhecer que Deus aprende o que esses livres e pecadores israelitas fazem somente quando eles o fazem. Nesse ponto, o conhecimento entra na mente de Deus. Ou considere o relato de Jonas, ao ser enviado a Nínive, a fim de proclamar o juízo iminente. Depois de o relutante profeta finalmente ter ido a Nínive e pregado a mensagem de Deus, os ninivitas se arrependeram e rogaram por misericórdia. Em seguida, lemos: “E Deus viu o que eles fizeram, como se converteram do seu mau caminho; então arrependeu-se do castigo que lhes enviaria e não o executou” (Jn 3.10). isso indica claramente que Deus – dizem os teísta abertos – planejou algo baseado no pecado e perversidade de Nínive; porém, quando soube que eles se arrependeram, o próprio Deus “arrependeu-se” e mudou de idéia sobre o que planejara fazer.  Como Deus poderia mudar de idéia dessa maneira, pergunta o teísta aberto, se ele já sabia exatamente o que os ninivitas fariam? Essa mudança de idéia não indicaria que Deus não conhece o futuro inteiro?
            O teísmo aberto sugere, assim, que apresenta a natureza de nosso relacionamento com Deus de modo mais realista do que o faz a teologia tradicional; que fornece uma resposta melhor à existência do mal em nosso mundo; e que é mais fiel ao que a Bíblia de fato ensina. Se esse é o caso, por que devemos nos preocupar? O teísmo aberto não é, ao menos, um possível entendimento correto acerca daquilo que as escrituras ensinam, e não deveríamos aceitá-lo como uma visão legítima, ainda que não concordemos totalmente com ela? Por que nos preocupar com o que os teísta abertos defendem? Em primeiro lugar, a própria grandeza, bondade e glória de Deus ficam debilitadas pela visão aberta sobre Deus. Ainda que o ponto de vista aberto tente compreender Deus como mais “relacional” e “realmente envolvido” em assuntos humanos, ele o faz retratando Deus como menos do que ele verdadeiramente é. Quanto à visão aberta, só se pode dizer o seguinte: “o Deus deles é limitado demais!”. Temos aí um Deus que deve esperar - em tantas, mas tantas situações – parar ver o que nós faremos, antes de poder decidir seu próprio rumo. Embora esse seja um jeito muito natural de pensar sobre escolha e ação humanas, será que isso se aplica adequadamente ao Deus da Bíblia? O Deus vivo e verdadeiro da Bíblia proclama: “Eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim. Sou eu que anuncio o fim desde o princípio e, desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; sou eu que digo: o meu conselho subsistirá, e realizarei toda a minha vontade” (Is 46.9,10). Seguramente, esse Deus majestoso encontra-se elevado e exaltado, e bem acima do proposto pela visão aberta. As abundantes profecias da Bíblia, a maioria das quais envolve inumeráveis livres escolhas e ações humanas futuras, deveriam bastar por si mesma na indicação de que o Deus verdadeiro não tem de esperar para ver o que nós faremos antes de tomar suas decisões. Se Deus não sabe o que faremos antes de em si, como Cristo poderia, por exemplo, advertir a Pedro que este o negaria três vezes, antes de o galo cantar (13.38)? e também em alguns versículos antes, Jesus dissera aos discípulos que começaria a contar-lhes coisas antes de elas acontecerem, afim de que, quando acontecessem, “creias que Eu Sou”. Deus sabe de antemão o que faremos e ele pode, quando quiser, declarar-nos tudo isso como prova de sua própria divindade. A visão aberta rebaixa Deus, pura e simplesmente falando. Tenta tornar mais significativa a escolha e ação humanas, à custa da própria grandeza e glória de Deus. O Deus do teísmo aberto é muito limitado, simplesmente por ser menos do que o majestoso, pleno conhecedor, Deus da Bíblia.
           Um exemplo a mais pode ajudar-nos a ver como a visão aberta debilita o retrato de Deus nas escrituras. No teísmo aberto, por Deus muitas vezes traçar seus planos sem saber exatamente como tudo funcionará, pode ser que Deus de fato olhe de volta para suas próprias ações passadas e conclua que ele fez não foi o melhor. Em (Gn 6 – 8) o proponente do teísmo aberto Sanders relata o acontecimento do dilúvio. Ele sugere que Deus reconsiderou se deveria mesmo ter provocado sobre o mundo o dilúvio e o doloroso juízo advindo deste. Sanders escreve: “pode ser que, embora o mal humano tenha gerado grande dor em Deus, a destruição do que ele criara trouxe-lhe sofrimento ainda maior. A pesar de seu julgamento ter sido correto, Deus decide tomar rumos diferentes  no futuro”. Em outras palavras, somos abandonados à noção muito desconfortável e profundamente deplorável de que até mesmo Deus pode olhar de volta para suas ações passadas e dizer: “Ainda que isso tenha sido justo, pode não ter sido a melhor coisa”. Tal visão sobre Deus questiona a sabedoria divina e a infalível bondade de seu caráter e ações. Mais uma vez, deve ficar evidente a cristãos crentes na Bíblia que a visão aberta sobre Deus diminui-lhe a plena integridade, sabedoria, grandeza, bondade e glória. O Deus deles é limitado demais.
           Em segundo lugar, a força, o bem estar, a fé, a esperança e a confiança dos cristãos em seu Deus ficam debilitados pela visão aberta. Para ver como visão aberta é devastadora à fé cristã, considere umas das passagens e promessas mais estimadas em toda a Bíblia: “confia no Senhor de todo o coração, e não no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará tuas veredas” (Pv 3.5,6). O que acontece a todos esses conselhos e garantias, se o Deus do teísmo aberto for considerado o Deus verdadeiro? Por esse exemplo particular, a extensão de nossa plena confiança em Deus é demolida, sem mais nem menos. O Deus do teísmo aberto sempre desejará o nosso melhor; porém, uma vez que ele pode não saber de fato o que é melhor, torna-se impossível depositar nele nossa confiança inquestionável e sem reservas. E se confiarmos na direção dele, por exemplo, mas começarmos a experimentar dificuldades? O que devemos concluir? Podemos dizer com confiança que “todas essas dificuldades são plano que Deus tem para mim e por meio delas seus bons propósitos se cumprirão”? Se o Deus em que cremos é o Deus do teísmo aberto, nossa resposta deve ser um altíssono não. Em vez disso, quando as dificuldades vierem, a questão natural e inevitável de nossa ansiosa alma deverá ser: “Será que Deus previu essas dificuldades, quando me deu a direção que segui? Será possível que o caminho em que me encontro não seja o melhor para mim, ainda que Deus anteriormente tenha achado que fosse? E será que não é melhor seguir um rumo diferente daquele que Deus me levou a tomar?” como podemos confiar de todo nosso coração no Senhor, enquanto temos dúvidas a respeito da capacidade de Deus para nos guiar e dirigir da melhor maneira? Além disso, como nos inspiraremos a reconhecer Deus e sua sabedoria e propósito em todos os nossos caminhos, ou confiar que a direção que ele nos deu está correta? Não importando o que “endireitar as veredas” signifique em provérbios 3.6, com certeza indica que o caminho que você tomar deverá cumprir o que Deus sabe ser o melhor para sua vida. Como todos sabem, os retos caminhos de Deus podem ter muitos desvios e reveses não previstos por nós. Entretanto, na perspectiva de Deus, esses caminhos são retos, apesar de tudo, pois eles de fato cumprem o que Deus sabe ser o melhor. Considere José, desprezado por seus irmãos, vendido ao Egito, falsamente acusado pela mulher de Potifar, lançado à prisão – todavia, tudo aconteceu, conta-se, como parte do plano de Deus (Gn 50.20). Por José estar tão seguro quanto à condução de Deus em tudo o que lhe aconteceu na vida, pôde dizer aos seus irmãos: “Não fostes vós que me enviastes para cá, mas sim Deus”. Conforme o teísmo aberto – Deus não conhece o que acontecerá em boa parte do futuro e se Deus pode descobrir que as coisas não se passaram como ele pretendia, não existe possibilidade de que Deus nos prometa com razão que, à medida que reconhecermos em tudo o que fizermos, ele seguramente endireitará nossos caminhos. O Deus vivo e verdadeiro da Bíblia de fato faz essa promessa espantosa, inspiradora, encorajadora e que nos chama à humildade. Ele diz a seus filhos que confiem nele, pois ele conhece tudo o que acontecerá e promete supervisionar todas as coisas em nossa vida conforme mantemos nossa esperança firmada exclusivamente nele. Nossos caminhos, como filhos de Deus, enquanto depositamos nossa fé e esperança nele. Porém, infelizmente, nada do tipo pode ser verdadeiro em relação a Deus do ateísmo aberto.
            Um exemplo específico em que o entendimento da visão aberta simplesmente não se ajusta ao que é encontrado nas escrituras pode ser visto em Jo 18.4: “Sabendo Jesus tudo o que estava para lhe acontecer, adiantou-se e perguntou-lhes: a quem procurais?”. O texto é significativo, ao menos de duas maneiras, para negação central do teísmo aberto quanto à presciência completa definitiva.
Argumento 1. Jesus e sua reivindicação total de conhecer todas as coisas por vir. A explícita reivindicação em Jo v.4 de que Jesus sabia “tudo o que estava para lhe acontecer” é em si mesma assombrosa, por sua aberta e explícita afirmação de conhecimento abrange dos eventos futuros. Considere quantas ações e eventos específicos deve abranger o tudo que Jesus parece saber: os guardas, os soldados, os julgamentos, as acusações, o interrogatório, as surras, as negações, as traições, a libertação de Barrabás, os espinhos, a cruz. A pura quantidade de conhecimento fático sobre o futuro, reivindica nessa declaração, desafia qualquer explicação desvinculada do fato de Deus ter uma  presciência abrangente. Além disso, considere quantas dessas futuras ações e eventos se desdobraram à  sua própria maneira e ocorreram conforme Jesus sabia que ocorreriam, apenas pelas livres decisões de inúmeros agentes morais humanos. Cada ataque de um soldado, falso testemunho, acusação de blasfêmia, mentira mordaz, honraria escarnecedora ou forte golpe executado por um ou outro livre agente. De acordo com o teísmo aberto, Deus não poderia conhecer nenhuma daquelas livres ações futuras. O texto, porém, nos diz o contrário: Jesus sabia tudo que estava por sobrevir-lhe. Em outras palavras, o texto nos diz que Jesus sabia aquilo justamente que os teístas abertos afirmam que ele não pode saber.
Argumento 2. A pergunta de Jesus àqueles que o procuravam. A pergunta que Jesus fez àqueles que vieram prendê-lo (v.4) mostra um discernimento importante sobre como as escrituras devem ser interpretadas corretamente, no diz respeito ao teísmo aberto. Logo após relatar que Jesus sabia tudo o que estava para sobrevir-lhe, João registra Jesus fazendo justamente uma pergunta. A finalidade de uma pergunta não seria adquirir conhecimento que não se possui no momento? Mas a justaposição da pergunta, seguindo imediatamente a afirmação joanina de que Jesus sabia “tudo o que estava para lhe acontecer”, mostra que interpretaríamos mal o questionamento se o lêssemos como admissão tácita da falta de conhecimento de Jesus. Porém, à medida que se lê a passagem, fica bem claro por que Jesus fez a pergunta. Ele deseja que eles anunciem abertamente que estão à procura de Jesus de Nazaré, de modo que ele possa responder “Sou eu” aplicada a si mesmo. À luz da utilização regular que o evangelho de João faz da expressão “Eu sou” em relação à divindade de Jesus, e à luz da reação de caírem por terra ao ouvirem sua declaração (v.6), parece que Jesus está, com certeza, fazendo mais do simplesmente se identificar com uma pessoa específica. Sua afirmação de divindade fica implícita. Assim, a pergunta, longe de indicar falta de conhecimento por parte Jesus, pretende introduzir sua reivindicação à divindade ilimitada. Encarando os fatos de forma simples, Deus pode ter motivos para falar conosco ou se aproximar de nós por caminhos que, em si e por si mesmo, parecem indicar que ele carece de conhecimento. Fazer uma pergunta, com certeza, pode expressar essa aparente limitação do conhecimento divino. Mas com isso aprendemos ao interpretar a pergunta de 18.4 à luz da inequívoca afirmação, que a pergunta de Jesus não significava falta de conhecimento. Pelo contrário, foi ferramenta para extrair dos outros os que ele queria deles, a fim de levar adiante seus propósitos, ao cumprir sua vontade prévia. Os proponentes da visão aberta dizem com freqüência que pretendem apenas aceitar seriamente o sentido bíblico simples e direto. Caso aceitássemos a pergunta de Jesus de modo direto, como se estivesse indicando limitação em seu conhecimento, isso não seria mera interpretação alternativa da passagem; na realidade, seria interpretar totalmente mal o trecho e violar a explícita declaração de João.
            Apesar de toda celebração em torno da habilidade do teísmo aberto para lidar melhor com questões de sofrimento e aflição, deve ficar claro que as escrituras resistem obstinadamente à visão aberta em relação a esse assunto. É verdade que o sofrimento não é por si mesmo, algo essencialmente bom. Deus, contudo, não esta ausente do sofrimento, e o sofrimento não é algo inútil e desnecessário. Pelo contrário, em meio ao sofrimento, a esperança e a confiança seguras do cristão é que Deus está profundamente envolvido nessa aflição, a fim de levar a cabo tanto o que ordenou por meio dela quanto o que é bom para seus filhos. Com base na Bíblia, portanto, o teísmo aberto fracassa na tentativa de ser uma explicação viável para a existência do sofrimento e da dor. A principal diferença entre o ponto de vista ortodoxo e o do teísmo aberto se encontra na resposta à seguinte pergunta: existe algum propósito divino em meio ao mal que ocorre? Segundo a proposta do teísmo aberto, Deus permite o que poderia impedir, mesmo sabendo que isso não cumpre nenhum bom propósito. As propostas ortodoxas acerca da relação divina com o mal insistem em que, seja pela vantagem que tem por sua presciência exaustiva e completa, seja por seu soberano controle sobre toda a história, o Deus do cristianismo histórico permite aquilo que, segundo ele sabe, em última análise cumprirá algum propósito maior.  O sofrimento não é inútil, na medida em que Deus é capaz de ver com precisão qual propósito se cumpre por meio de todo sofrimento que acontece.

Conclusão:
           
            O Deus da Bíblia ordena nossa confiança, mas o Deus do teísmo aberto deixa-nos temerosos. O Deus da Bíblia encoraja nossa fé e esperança enquanto enfrentamos o futuro, mas o Deus do teísmo aberto desperta medo e terror diante de um futuro incerto tanto para nós quanto para ele mesmo. O Deus da bíblia nos dá profundo e intenso senso de propósito em todas as aflições, sofrimentos, provações e tribulações que encaramos, mas o Deus do teísmo aberto nos diz que toda nossa dor é inútil. O Deus da Bíblia é grande em seus feitos e sabedoria, mas o Deus do teísmo aberto é limitado e pequeno. Então podemos declarar que o Deus da Bíblia não é o mesmo Deus do teísmo aberto.


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