segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sinergismo e Monergismo


Introdução
             O tema clássico entre a teologia agostiniana e todas as formas do pelagianismo concentra-se num aspecto da ordem da salvação (ordo salutis): qual é a relação entre regeneração e fé? A regeneração é uma obra monergística ou sinergística? Uma pessoa deve primeiramente exercer a fé a fim de nascer de novo? Ou o novo nascimento deve ocorrer antes da pessoa estar apta para exercer fé? A graça da regeneração é operante ou cooperativa? A regeneração como vemos acima, ela têm muitas indagações, e é muita complexa para quem quer estudar bem aguçadamente. Mas o que é monergismo e sinergismo?
A regeneração monergística significa que ela é alcançada por um simples protagonista, Deus. Siginifica literalmente obra de único ser. O sinergismo, por outro lado, refere-se à obra que envolve a ação de duas ou mais partes. ou seja, a graça é um assitente de Deus, como um ingrediente necessário mas dependente da cooperação humana para a sua eficácia. E é nesse tema que vou desenvolver meu trabalho sobre regeneração, citando os ensinos de alguns eruditos consagrados na teologia cristã.

Sinergismo
     
       O sinergismo teve princípio com os ensinamentos de Pelágio, um monge britânico que engajou num debate ardente com Agostinho na igreja primitiva. De acordo com os ensinamentos de Pelágio, ele pregava o seguinte: que Deus não havia ordenado nada impossível, que o homem possuía o poder de fazer o bem se assim o desejasse e que a fraqueza da carne era meramente um pretexto. Ele também acreditava que a ordem de obedecer implicava habilidade para obedecer. Isso se aplicaria não apenas à lei moral de Deus, mas também aos comandos inerentes ao evangelho. Se Deus ordena que as pessoas creiam em Cristo, então elas devem ter o poder de crer em Cristo sem a ajuda da graça. Se Deus ordena que os pecadores se arrependam, eles devem ter a habilidade de se inclinarem para obedecerem ao comando. Por meio do seu próprio esforço, o homem pode alcançar tudo o que se requer dele na moralidade e na religião. Pelágio ensinava que, se Deus é completamente bom, então tudo o que criou é igualmente bom. Toda sua criação é boa, incluindo o homem. E o homem dotado com razão e livre arbítrio. Com sua razão, ele deveria ter o domínio sobre todas as criaturas irracionais; com seu livre arbítrio, ele deveria servir a Deus. E essa liberdade, não poderia ser perdida. Pelo contrário é a base única da relação ética do homem com Deus. Esse livre arbítrio consiste essencialmente na habilidade de se escolher entre o bem e o mal. E é um aspecto essencial da natureza constituinte do homem.
Segundo Pelágio; a vontade do homem é como uma tabula rasa perpétua, que o homem poderia escrever tudo que lhe agrada; e depois de cada decisão poderia reverter-se à indecisão. Ou seja, a vontade do homem não passou por uma mudança e nem por uma deformação. O homem não foi corrompido, e nem há uma inclinação para o pecado. O homem por si só pode voltar para um novo começo, como se nada tivesse acontecido.
Para Pelágio a natureza humana não poderia ser alterada, e sim modificada acidentalmente. Ou seja, o comportamento de alguém pode ser mudado quando ele comete atos pecaminosos, mas essas ações não mudam a natureza desse alguém. Por que ele acreditava dessa forma? Por que ele definia o pecado como um desejo de fazer o que a justiça proíbe, do qual somos livres para nos abstermos e, assim, podemos sempre evitá-lo pelo exercício adequado da nossa vontade. O pecado não poderia se transformar em natureza, ele sempre é um ato e nunca uma natureza. Se o pecado fosse natureza; Deus seria o autor do mal. E a sua justiça e bondade estariam destruídas.
Essa doutrina sinergista, que fala sobre a vontade do homem em crer ou repudiar o chamado de Deus; é enfatizado pelo Tiago Armínio em seus ensinamentos, que declara: todas as pessoas não-regeneradas têm liberdade de vontade e uma capacidade para resistir ao Espírito Santo, para rejeitar a oferta da graça de Deus, para desprezar o evangelho da graça e para não abrir àquele que bate à porta do coração; e essas coisas eles realmente podem fazer sem qualquer diferença entre o eleito e o reprovado. Armínio diferenciava a graça entre a graça suficiente e a eficiente: a graça suficiente provê tudo que o pecador necessita para ser salvo. Porém essa graça suficiente, por falha daquele a quem é recebida nem sempre obtêm o seu efeito, por isso a justiça de Deus não poderia ser defendida quanto à condenação daqueles que não crêem. E a graça eficiente, diz que Deus age de uma forma tão íntima no coração e mente do homem que aquele no qual o ato foi concedido, ele nada pode fazer além de consentir com Deus que o chamou. Armínio diferenciava do conceito reformado de Calvino e Lutero sobre a graça, Pois eles acreditavam que a graça era irresistível; porque, quando Deus chama, todos cedem ao seu chamado. Já Armínio acreditava que a graça é resistível. Pois o homem pode resistir a Deus.
            Tiago Armínio acreditava que a graça capacita o homem a submeter-se a Cristo, mas não a desejar. O pecador só é capaz de desejar; através do Espírito Santo. Pois é obra de Deus conceder a graça; e consentir com ela é obra do homem, que agora tem o poder de cooperar ou não com ela. Assim conforme a crença de Armínio pode concluir que ele acreditava que o poder para crer e se converter é concedido, de forma irresistível, mas o próprio ato de crer e se converter pode ser produzido ou impedido pela vontade humana.

Monergismo

             Agostinho busca responder à pergunta: o que é necessário para o homem caído “recuperar-se para o bem e para Deus”? Como uma criatura que é má se recupera dessa condição e se torna boa? Como uma criatura que e alienado de Deus e indisposto com a relação a Deus, encontra seu caminho de volta para Deus? Essas questões são supremas para um entendimento da salvação. Para Agostinho, a resposta para elas estava na graça de Deus. Para Agostinho a graça é livre porque não é merecida e nem conquistada. É indispensável porque é a condição necessária para recuperação. É preveniente porque deve vir antes que o pecador possa se recuperar. É irresistível porque é eficaz, executando o propósito de Deus ao dá-la. É infalível porque essa liberação de graça é perfeita, sem falhas. A dádiva da graça é ligada ao propósito eterno de Deus e é intimamente vinculada ao seu propósito da predestinação.
Agostinho afirmou que a vontade do homem era tanto livre quanto boa, servindo a Deus com disposição e grande satisfação. Ou seja, a vontade é verdadeiramente livre quando não é escrava de vícios e pecados. E foi essa vontade que Deus tinha dado ao homem, mas foi perdida pelo próprio erro, só pode ser restaurada por meio daquele que foi capaz de dá-la em primeiro lugar. Para que viemos entender sobre a graça é preciso saber sobre a originalidade da criação do homem; e para o nosso entendimento vou citar os argumentos de Agostinho.
Na criação, disse Agostinho, o homem tinha a posse peccare ( capacidade para pecar) e a posse non peccare ( capacidade para não pecar). Mesmo nesse estado, havia a assistência divina disponível para ele. Essa assistência graciosa capacitava Adão a continuar em seu estado original, mas não o compelia a perseverar nele. Adão tinha a posse non peccare ( capacidade para não pecar) mas não a non posse peccare ( incapacidade para não pecar). Na criação, adão tinha a possibilidade, mas não a necessidade de pecar. Agostinho argumenta que o homem não apenas tinha a capacidade para não pecar como tinha a capacidade para agir assim facilmente. Em vez disso, ele violou o comando de Deus de Deus e experimentou a horrível queda. E com isso veio as suas conseqüências.
Com a queda, o homem perdeu a liberdade. Na criação o homem tinha a inclinação para positiva para o bem e para amar a Deus. Embora fosse possível que o homem pecasse, não havia a necessidade moral para que o agisse assim. Como resultado da queda, o homem passou a ser escravo do mal. A vontade caída tornou-se uma fonte de mal no lugar de uma fonte do bom. Depois da queda o homem tornou-se livre pecar, porque ele tornou-se servo do pecado. E todo servo do pecado serve seu mestre de boa vontade. Ele faz com prazer a vontade do seu mestre. Para que o pecador se mova da escravidão para liberdade, Deus precisa exercer a sua graça. Agostinho disse que antes de ser redimido, o homem ainda não é livre para fazer o que é certo. Essa capacidade vem pela graça mediante a fé. Agostinho, então, trabalha o ponto em que a liberdade não vem da ação do homem, pois ele é escravo do pecado. Mas a liberdade é um dom da graça divina. É Deus quem prepara o coração para crer. Frequentemente se diz que a visão de Agostinho é de que Deus salva o povo que não deseja ser salvo, ou que sua graça opera contra a vontade desse povo, forçando-o a escolher e levando-o para o seu reino debatendo-se e gritando contra sua vontade. Mas a visão da graça que Agostinho argumenta é que a graça de Deus opera no coração de tal modo que faz com que a relutância anterior do pecador se transforme em boa vontade. A pessoa agora deseja Cristo porque Deus criou um novo espírito dentro dela. Deus faz com que a vontade seja justa removendo a dureza do coração e convertendo a vontade oposta.
A visão de Agostinho da graça que liberta está ligada à sua visão de predestinação. Ele argumenta que Deus converte os desejos maus em desejos bons. Ele faz isso pelos eleitos. Evitando qualquer visão de eleição baseada no conhecimento prévio de quem iria crer.
Calvino escreve que o homem, é voluntário da prática do pecado, e isso o torna sem vontade, e ele não pode mover-se e agir a não ser em direção ao mal. E a necessidade de pecar é visível na vida do homem. A libertação do pecado que Deus proporciona ao pecador. Calvino cita a carta de Paulo aos filipenses, na qual o apóstolo fala de Deus tendo começado a boa obra entre nós (Fl 1.6). Calvino interpreta isso como o início da conversão na vontade. A obra do Espírito na vontade é o que inicia conversão a Cristo. Ou seja, a boa obra do Espírito exerce em nosso coração um desejo, um amor e uma preocupação com a justiça; desviando, treinando e guiando o nosso coração para justiça. Calvino claramente não pretende ensinar que a vontade é destruída na conversão. Antes, ela é mudada na sua orientação. A direção é mudada. Considerando que a vontade não-convertida é dirigida somente para o mal, a vontade regeneradora é agora dirigida para Deus.

Conclusão

O novo nascimento é um milagre. É a ação bendita do Espírito Santo que produz vida onde imperava a morte e a condenação. É a causa que gera a mudança de vida; a disposição para deixar tudo, negar a si mesmo, tomar a cruz e seguir após o Senhor Jesus Cristo. É o que possibilitou o apóstolo bradar que o mundo para ele estava crucificado e ele para o mundo. Só o novo nascimento pode abrir os ouvidos para que ouçamos a Palavra de Deus e a recebamos; só a mente regenerada pode atinar para o ensino que para este mundo é loucura. A salvação é a principal das bênçãos. É o que nos concede acesso ao Pai, por meio de Cristo Jesus, sem que sejamos consumidos e a nossa existência contada entre os transgressores. O novo nascimento amplia os horizontes; dá sentido à vida, conforma-a à imagem de Cristo; torna-a proveitosa para a causa do reino e sua perda na verdade é ganho, pois ascende-nos à presença gloriosa d’Aquele que é a suma de todas as coisas e o fim maior de nossa existência. A igreja de Cristo só pode ser constituída daqueles que experimentaram a bênção da nova criação; é a militância dos servos que exalam o perfume do Salvador, que batalham num mundo cruel contra as hostes de um inimigo feroz e irado, porém derrotado. O novo nascimento é a dádiva do Pai, em Cristo, outorgada e confirmada pelo Espírito, que nos dá vitória final sobre a morte.



10 comentários:

  1. Cordial Convite para conhecer a Igreja Tradicional Reformada -- http://fundamento-reformado.blogspot.com

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    1. Deus ricamente o abençoe querido. Muito proveitosa sua exposição sucinta, mas, com profundidade teológica. Deus ricamente em Cristo, o abençoe meu irmão. Também tenho um blog. Dê uma olhada no mesmo. Precisamos que material teologicamente reformado sejam difundido, a fim de que o povo possam ter uma fé mais genuína em Cristo.

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    2. Obg meu queridos irmão Marcos. Deus abençoe você e sua família

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  2. Olá! Estarei usando em parte seu artigo, preciso do seu sobrenome para por sua autoria na referência bibliográfica de um trabalho acadêmico. Estou no aguardo!

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    1. Desculpe por não ter visto sua petição meu irmão. Sem problemas viu

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    2. Muito boa explicação meu irmão, usarei também a sua doxologia no final sobre a obra remidora de Cristo.

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