Parte
um
O
fundo cultural e literário
Os escritos sagrados
O Cânon
Hebraico
De acordo com os costumes judaicos,
as escrituras hebraicas são divididas em três grupos conhecidos como Torah
(lei), Nebi`im (Profetas – anteriores e posteriores) e Kethubim (escritos).
Esses livros que fazem parte dessas divisões são considerados inspirados e
sagrados e que possuí a autoridade canônica. Nem todos os livros das escrituras
sagradas eram considerados de igual autoridade; esses livros eram classificados
em três níveis como eu citei acima.
O judaísmo que gradualmente se
desenvolveu atribui a maior importância possível à revelação da Thorah dada por
Deus a Moisés no Sinai, e considerou a história subsequente como de menor
importância; dessa maneira a Thorah recebeu um lugar de suprema autoridade
escriturística dentro da igreja judaica. Por muito tempo a controvérsia a
respeito do número de livros continuou. Muitas opiniões continuaram divididas e
a questão do canôn era ainda um ponto de debate no segundo e terceiro século
d.C. não há data definida, de quando foi concluída a coleção dos livros
chamados canônicos. Mas pela contribuição, popularidade e uso nos cultos da
sinagoga, a revelação divina foi sendo gradualmente estabelecidas dentro das
sagradas escrituras.
A tradição
oral
Sua
origem e desenvolvimento
A origem do processo de
interpretação está fundamentada no soferismo que procura levar as pessoas
aplicá-las em os ensinamentos contido na lei para sua vida contidiana. Esdras é
um exemplo disso. Esdras é descrito
como um escriba versado na lei de Moisés que havia disposto o coração para
buscar a lei do Senhor e para cumpri-la. Ele não apenas lia no Livro, na lei de
Deus, como também dava “explicações, de maneira que se entendesse o que se lia.
Isso é exatamente o que o soferismo também buscava fazer. Eles se propuseram à
tarefa de não apenas fazer da Torah uma possessão do povo, mas também de
descobrir e interpretar seu significado de modo que os homens pudessem
aplicá-la a sua vida cotidiana. Para eles, a Torah era muito mais que a
sobrevivência de um passado glorioso com um valor apenas arcaico; era um
profeta pela qual a palavra de Deus podia ser transmitida de geração a geração.
Sua palavra não era estática, mas dinâmica, capaz de novas interpretações para
cada era subsequente e capaz de aplicação renovada para cada aspecto da vida
humana. Os costumes e tradições, principalmente de natureza religiosa, que
haviam surgido no decurso dos anos, passaram a ser aceitos como autoridade na
prática do judaísmo, muito embora não houvesse nenhuma justificação para tal na
Torah. No devido tempo, surgiu a pergunta concernente à relação entre a
autoridade da tradição e a autoridade da Torah escrita. Estava claro que não
poderia haver duas autoridades independentes. E assim surgiu a importantíssima
crença de que a Torah era mais do que simplesmente a palavra escrita das
Escrituras, mas incluía também a tradição que havia sido passada de geração a
geração. A Torah era dividida em escrita e oraL e cada uma delas tinha igual
autoridade. E não apenas isso; Os fariseus eram firmes defensores da autoridade
da tradição oral ao que os saduceus eram amargamente contrários. Estes, por sua
vez, embora tivessem suas próprias ordenanças a respeito das questões dos
sacrifícios e outros rituais, consideravam a Torah escrita como a única
autoridade. Os perigos do desenvolvimento Torah não-escrita são óbvios,
especialmente quando ela se dissociou do texto da Torah escrita e não mais
requeria base justificativa nas Escrituras. Livrou o judaísmo daquele estado
moribundo que deveria ter sido seu destino, se a nação tivesse seguido a
orientação dos conservadores saduceus. Por meio da Torah não-escrita, a
religião e a vida, o trabalho e a adoração, foram integrados de um modo que
seria antes impossível, e Deus e seus mandamentos foram apresentados como reais
na vida comum das pessoas comuns.
Sua forma e conteúdo
As
tradições orais permaneceram ao longo período de todo período interbíblico, e
são divididos em duas classes: o midrash e o mishnah. O Midrash era o interesse
dos rabinos antes da destruição do segundo Templo, e depois dessa data
tornou-se sua maior preocupação. A função, apresentação e ampliação da tradição
oral eram as principais características de seus estudos. Sua tarefa então, como
sempre, era de estudar a Torah escrita e sua tradição oral e transmiti-las aos
outros. Esse Midrash era dividido em duas seções. Primeiro, havia o Halakah (do hebraicohalak, caminhar) que consistia de regulamentos relativos às
questões da lei civil e religiosa. Ele mostrava o caminho pelo qual o homem
deveria caminhar. Era uma exegese das leis bíblicas, a partir da qual poderiam
ser formulados regulamentos autorizados para a vida das pessoas. E este Halakah que forma a tradição oral do Judaísmo. Segundo,
havia o Haggadah que
significa repetir. E aquela parte da literatura rabínica que não é o Halakah,
isto é, tudo que não se refere a qualquer ponto da lei. E um desenvolvimento,
por assim dizer, das histórias bíblicas em vez da lei bíblica. Essa parte contém
muitas lendas e miscelâneas do folclore israelita. Mas juntamente com esses
relatos, há um considerável volume de material ético e religioso. O Haggadah se refere frequentemente ao discurso
dos pregadores nas sinagogas e dos mestres nas escolas e muitas vezes os
menciona pelo nome. Esse material era de grande valor, mas não tinha a mesma
autoridade do Midrash Halakah no judaísmo. E o mishnah é uma segunda
fonte rabínica. Ela tem sido classificada como sistemática das discussões e
decisões dos rabinos durante a interpretação e expansão da torah. Depois da Bíblia, o Mishnah é a base da literatura judaica até
nossos dias e é o fundamento do Talmude. Com os escritos do Mishnah,
os judeus se estabeleceram como o povo do Livro.
Os livros não incluídos
A literatura não-canônica
Os livros que foram escritos durante o período
interbíblico oferecem uma interessante
visão da história dos judeus e da religião do judaísmo formada nas escolas
rabínicas. O nome dado a esses livros significava que não pertenciam ao canôn
das escrituras reconhecidas.
Quatro
critérios eram observados em determinar a aceitação ou a rejeição de qualquer
livro que estava em circulação nesse período:
1. A visão de que as profecias
cessaram em Israel após Daniel no período persa e que, portanto, todos os
livros escritos após esse tempo não devem ser considerados. 2. A congruência do
conteúdo de qualquer livro com a Torah. 3.
Uma certa auto-consistência entre os livros referidos. 4. O caráter hebraico original de qualquer livro.
Esses fatores explicam a inclusão de Daniel no
Cânon e a exclusão de livros tais como o Eclesiástico, Judite, Salmos de
Salomão e I e II Macabeus. Os
livros excluídos tinha sua relevância, pois enfatizava ao ensino concernente à
iminente volta de Cristo.
O meio ambiente dos apocalípticos
A literatura não-canônica, apocalíptica ou não, confirma
que, durante o período interbíblico,o Judaísmo era um sistema complexo, que
abrangia muitas seitas, partidos e classes, pois a própria literatura desvenda muitas
visões diferentes, interesses e crenças que nem sempre podem ser identificadas
com qualquer um dos partidos reconhecidos dentro do Judaísmo. A existência de
escritores tais como os dos livros apócrifos tendem mais à complexidade do que
à simplicidade nas atividades literárias da época. Também, a presença de muitos
elementos no Judaísmo contemporâneo, de modo algum implica que havia interação
íntima e influência mútua entre eles.
O fundo cultural e literário
Judaísmo versus helenismo
Surgimento e expansão do helenismo
Os gregos e os Romanos
Os judeus sentiram grande impacto
da cultura helenistica sobre seu estilo de vida e principalmente sobre sua
religião. Eles ficaram especialmente vulneráveis à influência do helenismo por
intermédio dos negócios e das trocas comerciais. A política de Alexandre e de
seus sucessores era enviar seus agentes gregos no rastro de seus exércitos e
plantá-los como comerciantes nas terras conquistadas. Nessas terras, viviam
muitos judeus que haviam sido exilados da Palestina muitos anos antes, e outros
que, até mesmo antes do tempo de Alexandre, haviam emigrado e se instalado em
cidades gregas no extremo oeste. Onde quer que os judeus estivessem, sob o
governo dos Selêucidas ou dos Ptolomeus, eles haviam desfrutado por muito tempo
das bênçãos da liberdade religiosa sob uma política de tolerância religiosa
que, sem dúvida, os deixaria abertos à influência sutil da cultura helenística. Os romanos, por sua vez, continuaram a estimular o
desenvolvimento dessa cultura, especialmente nas províncias orientais, e
buscaram por esses meios realizar os sonhos de Alexandre, o Grande. Nesse
sentido, não houve um verdadeiro rompimento entre o regime grego e o romano,
ou, realmente, entre os anos antes de Cristo e os anos depois de Cristo. A
cultura e a civilização helenísticas foram características de todo o período
greco-romano.
A septuaginta e a literatura Helenística
A tradução do Pentateuco aconteceu, durante o reinado de Ptolomeu II, com o nome
"Septuaginta" sendo estendido por todas as partes dos escristos
bíblicosa. Na Carta de Aristéia, que mais tarde acompanhou a Bíblia grega, diz a lenda que a Septuaginta foi
o resultado de uma ordem real de Ptolomeu II, do Egito, que teria delegado a tarefa da tradução a 72
"anciões". Esses homens levaram a cabo a
obra de tradução em ambientes separados e produziram resultados precisos.
Porém, a Septuaginta tenha vindo a existir como um Targum, assim como na
Palestina passou a existir um Targum para ajudar aqueles que não conseguiam
entender as Escrituras hebraicas. A Septuaginta trouxe influência sobre os
judeus da Dispersão e mesmo sobre a jovem Igreja Cristã.
Em Alexandria, também, foram escritos muitos livros gentílicos e enviados
para muitas partes do mundo onde, sem dúvida, foram estudados pelos mais instruídos
dentre os judeus. Esses livros continham acusações difamadoras contra a raça e
a religião judaica que eram normalmente considerados supersticiosos e ateístas.
Os judeus, por sua vez, não tentavam disfarçar, em seus próprios escritos, o
absoluto desprezo que tinham pelos pagãos. toda a literatura
judaico-helenística, tinha como alvo a condenação da idolatria, e a defesa do
Judaísmo contra as intromissões de tal influência pagã. Muito dessa literatura
é conhecida por nós apenas por fragmentos ou em referências em outras obras,
mas esses escritos que sobreviveram mostram muito claramente o pensamento
grego e judeu que predominava no começo da era cristã.
Havia muitos oráculos em diferentes países, e no Egito, em particular, eles passaram a gozar de um crescente interesse e
significado. Os judeus de Alexandria viam nesse tipo de literatura um excelente
meio de propaganda. Por meio de alterações e acréscimos discretos, eles usaram
a estrutura dos oráculos pagãos para propagar a fé no único Deus vivo e
verdadeiro.
Um bom exemplo de Judaísmo helenístico pode ser encontrado no escritor judeu alexandrino Philo, que foi contemporâneo de Jesus e de
Paulo. Ele era bem versado não apenas nas Escrituras em hebraico, como nos
escritos judaico-helenistas, e também em filosofia grega. O objetivo de
seus escritos era demonstrar a relação entre a religião das Escrituras e a
verdade das filosofias gregas. Ele fez uso livre da alegoria, prática comum em
Alexandria, e através dela demonstrou, por exemplo, que Moisés estava em
consonância com os filósofos gregos. A posição de Philo não era aceita pelo Judaísmo ortodoxo
de seus dias, mas sua abordagem da religião e da filosofia, e a relação entre
elas, teve uma influência considerável no desenvolvimento da teologia cristã
nos anos que se seguiram.
A cultura Grega na
Palestina
muita das cidades da Palestina
foram conquistadas pelo estilo de vida grego e algumas novas cidades foram
construídas em estilo grego. Essas comunidades, trouxeram para os judeus uma
perspectiva mental completamente nova, visão da cultura e civilização
helenística, muito do que, para o judeu fiel, parecia ser prejudicial e até
mesmo subversivo à fé de Israel. Mesmo em Jerusalém e seus arredores havia muitos
que adotaram o estilo de vida grego desde o início do período da
supremacia ptolomaica, e muitos mais sucumbiram sob a propaganda concentrada
dos Selêucidas.
O livro de Macabeus lança luz sobre a situação daquele tempo: "Nesta
época saíram também de Israel uns filhos perversos que seduziram a muitos
outros dizendo: Vamos e façamos alianças com as nações circunvizinhas, porque
desde que nós nos separamos deles, caímos em infortúnios sem conta. Semelhante
linguagem pareceu-lhes boa, e houve entre eles quem se apressasse a ir ter
com o rei, que concedeu a licença de adotarem os costumes pagãos. Edificaram
em Jerusalém um ginásio como os gentios, dissimularam os sinais da circuncisão, afastaram-se da aliança com Deus, para se unir aos estrangeiros e se escravizar ao
pecado" (1 Mac 1.12-15). Os Gregos expressavam suas tendências fundamentais — sua
inclinação para a beleza harmoniosa da forma, o prazer do corpo, a franqueza
imperturbável com respeito ao mundo natural. A ênfase grega na beleza, forma e
movimento iriam abrir o horizonte estético, desconhecido até então para muitos
judeus. Os ritos
religiosos judaicos que pareciam
inestéticos
para os gregos, passaram a ser negligenciados por certos judeus. Os atletas
judeus, que iam normalmente correr nus na pista, passaram a ser incircuncidados
por meio de uma leve operação cirúrgica para evitar o escárnio da multidão. Os jogos e
corridas no estádio eram marcas distintas das cidades helenizadas e eram populares entre os jovens
judeus. O teatro também desempenhou um papel importante na disseminação da
cultura grega, e alguns judeus escreveram tragédias em versos gregos. Os ritos
e as cerimônias religiosas tinham uma influência sobre a população judia e
corrompiam as mentes dos jovens, com medidas de imoralidade e vícios.
A influência
religiosa do helenismo
O Helenismo era um sistema
sincretista, sob cuja superfície o pensamento e as crenças de muitas antigas
religiões orientais continuaram a exercer uma forte influência. Por meio do
helenismo sírio, o impacto dessa cultura seria sentido pelos judeus na Palestina.
muitos dos judeus tinham contato
direto com o
pensamento e a cultura perso-babilônica porque, desde o tempo do
Cativeiro, eles tinham vivido lado a lado com persas na Mesopotâmia. De vez em
quando esses judeus babilônicos voltavam à Palestina, trazendo consigo uma
avaliação simpatizante de alguns aspectos do pensamento persa, particularmente
aqueles que não eram necessariamente incompatíveis com sua própria religião
hebraica.
A influência da cultura perso-babilônica é amplamente ilustrada nos
escritos dos judeus apocalípticos desse período e nas obras do judaísmo
farisaico. O Zoroastrismo é evidente em questões tais como a separação da alma
do corpo no momento da morte, o destino dos mortos no lapso de tempo entre a morte
e a ressurreição, a doutrina da ressurreição e o ensino relativo ao Juízo
Final. Outro campo no qual se percebeu profundamente essa influência, é na
doutrina difundida sobre anjos e demônios, na
qual se acredita na personalização de espíritos maus para os quais não há paralelo no
pensamento do Antigo Testamento. As antigas tradições religiosas e
místicas do Egito e da Babilônia entraram em contato com a nova ciência e cultura
gregas, produzindo um sistema de pensamento muito mais abstrato em forma do que o ramo sírio de helenismo. Muitos judeus, especialmente os
da Dispersão, foram grandemente influenciados pelo tipo filosófico de religião
que acompanhava essa forma particular da cultura grega. A maioria dos
livros de caráter apocalíptico dos judeus expressa a crença em uma ressurreição
da morte na qual a alma ou o espírito é reunido ao corpo, mas em alguns deles a
influência do pensamento platônico é novamente evidente em passagens que
expressam a crença na imortalidade da alma. No primeiro livro de Enoque de 164 a.C, o escritor refuta a visão dos saduceus de que não
há nenhuma diferença entre a sorte dos justos e a dos ímpios após a morte e afirma que toda bondade e alegria e glória estão
preparadas para as almas dos justos. Eles vão viver e se regozijar e seus espíritos jamais
perecerão. Todas as influências do helenismo no Judaísmo durante esse
período estão explicitos; mas em relação as suas doutrinas fundamentais, o
Judaísmo permaneceram fieis à fé de seus pais e preparou o caminho não apenas
para sua própria sobrevivência, mas também para o nascimento da religião
cristã.
A reação contra o
Helenismo
O Partido Helenista em Jerusalém
No período de Antíoco IV foi marcado por amarga rivalidade entre duas
grandes famílias, a Casa de Tobias e a Casa de Onias, que foram os grandes influenciadores do curso de eventos que ocorreram nos
anos futuros. O historiador Josefo conta que o Sumo Sacerdote Onias II, um
grande amante do dinheiro", recusou-se a pagar o imposto anual de 20 talentos a
Ptolomeu IV, depois que José, filho de Tobias, havia sido indicado coletor de impostos de todo o país. José e sua familia tornaram-se ricos e ganharam uma posição de poder considerável perante a nação. E com
isso, as duas familias rivais estavam representadas nos dois ofícios mais
elevados do Estado. No tempo de Antíoco, o Grande, o controle da Palestina
passou dos Ptolomeus para os Selêucidas e em seguida José e seus seguidores
transferiram sua submissão àquele monarca, cujo governo estava terrivelmente
dependente de dinheiro. homens em jerusalém estavam prontos a levantar dinheiro
em troca de posições de poder.
As duas familias rivais chegou a um ponto crítico no reinado de Antíoco IV
que sucedeu a seu irmão Seleuco. Os helenistas em Jerusalém que eram
abertamente favoráveis à Síria, viram na ascensão de Antíoco uma oportunidade
para atingir seus objetivos. Os judeus ortodoxos, e em particular
os Hasidim ou os Piedosos, ficaram furiosos com esses
acontecimentos e com a expansão da influência helenística em geral. Para eles,
a indicação de um Sumo Sacerdote era um ato de Deus, que nada tinha a ver com a
aprovação ou desaprovação de um rei gentio. O único consolo era que o novo
Sumo Sacerdote, Jason, pelo menos era membro do partido ortodoxo. Porém, tal
situação seria logo alterada, porque a essa altura, um Menelau, que não era
membro da família do Sumo Sacerdote, expulsou Jason do ofício com a ajuda de
Tobias e a oferta ao rei de um suborno maior que o oferecido por seu rival. Os
seguidores de Menelau apoiavam abertamente o estilo de vida grego e se
colocaram contra o partido ortodoxo. As duas facções do povo aumentou e a luta
irrompeu em Jerusalém entre os partidos helenista e ortodoxo. Encorajados por
um rumor de que Antíoco havia morrido em uma campanha no Egito. Jason se apressou rumo a Jerusalém e expulsou Menelau. O conflito que se
seguiria não era simplesmente uma questão de judeus contra sírios, mas de
judeus contra judeus; porque, em oposição ao partido helenista em Jerusalém, a
vasta maioria dos judeus nos arredores do país estava alinhada em oposição a
qualquer política de helenização.
A vingança de Antíoco
Antíoco estava decidido a implantar a cultura e a religião helenísta na
Palestina. Mesmo sendo apoiado pelos helenistas em jerusalém, mas sua política
de helenização era violentamente contrária à maioria das pessoas que, além
disso, recusavam-se a reconhecer Menelau como Sumo Sacerdote. Assim,
Antíoco determinou exterminar completamente a religião judaica. Optou por
destruir as próprias características distintivas da fé judaica. Todos os
sacrifícios dos judeus foram proibidos; o rito da circuncisão teve que cessar,
o Sábado e os dias de festas não podiam mais ser observados. A desobediência a
qualquer desses mandamentos acarretaria a pena de morte. Além disso, os livros
da Torah foram desfigurados ou destruídos; os judeus, forçados a comer carne de
porco e a oferecer sacrifícios em altares idólatras erigidos por todo o país. Para
coroar suas ações de infâmia, Antíoco erigiu um altar a Zeus do Olimpo
com uma imagem do deus sobre o altar de ofertas queimadas no interior do átrio
do Templo. Esses eventos foram seguidos de severa perseguição na qual
muitos foram condenados à morte. Muitos abandonaram as cidades,
pois eram perseguidos pelos agentes do governo. A intenção de Antíoco era
destruir a fé judaica.
Os Macabeus e a revolta dos Macabeus
A
revolta dos Macabeus foi iniciada por Matatias, que fugindo das atrocidades
praticadas em Jerusalém por conta da nova ordem imposta por Antíoco, veio a
habitar com seus cinco filhos na cidade de Modein, onde alcançaram grande
respeito por parte de muito judeus zelosos. Certo dia apareceu em Modein um
oficial do rei a ordenar que se oferecessem sacrifícios no altar conforme o
novo costume imposto por Antíoco. Matatias se recusou a fazê-lo e matou um dos
judeus que ali sacrificava, bem como o oficial do rei, vindo assim a se
refugiar com seus familiares nas montanhas. Juntou-se pouco tempo depois a este
pequeno grupo familiar, alguns judeus que igualmente fiéis à sua religião,
decidiram combater Antíoco; muitos outros grupos foram se juntando a este
núcleo, de tal forma que se constituiu um pequeno e valente exército disposto a
combater os pagãos. Cerca de um ano depois de iniciada a revolta Matatias veio
a falecer, vindo a ocupar seu lugar na liderança do grupo seu filho Judas, de
apelido Macabeu, cujo significado é “martelo”, de onde vem o nome revolta dos
Macabeus. Judas Macabeu era um general competente, havendo derrotado sucessivas
vezes exércitos imensamente mais numerosos e mais preparados no sentido
militar. Depois de sucessivas vitórias sobre o exército de Antíoco, Judas
logrou reconquistar Jerusalém. Ocupou-se então de restaurar e purificar o
Templo, vindo a consagrá-lo novamente ao serviço religioso judaico, exatamente
três anos após Antíoco o haver violado. A celebração deste evento marca a
origem da Festa das Luzes celebrada pelos judeus. Após seis anos de
consecutivas vitórias sobre os selêucidas, Judas Macabeu veio a falecer, sendo
então substituído por seu irmão Jônatas. Ele liderou o povo, sendo seguido
depois de sua morte por seu irmão Simão que governou o povo, encerrando assim o
período dos irmãos Macabeus.
A
casa de Hasmoneu
João Hircano, filho de Simão Macabeu, sucedeu seu pai como líder
e sumo-sacerdote, governando os judeus. Teve um princípio de governo tumultuado.
Quando Antíoco faleceu, Hircano atacou algumas cidades controladas pelos
selêucidas, entre as quais Siquém, a então capital da Samaria, vindo a destruir
o Templo contruído por autorização de Alexrandre, o Grande. Todos os povos
dominados por Hircano tiveram que se submeter às leis judaicas e adotar sua
religião, obrigando todos os homens à circuncidarem. Hircano renovou a aliança
estabelecida por Judas Macabeu com os romanos, mesmo sem ter qualquer garantia
de proteção de Roma que naquele momento passava por momentos de tribulação
política. Hircano foi sucedido por seu filho mais velho, Aristóbulo I, que veio
a ser o primeiro dos hasmoneus a requerer para si o título de rei. Já no tempo
de Alexandre se toma conhecimento da existência dos partidos dos fariseus. É
interessante notar que quanto mais poder acumulam os hasmoneus, mais se
distanciam do povo e dos ideais que nortearam os destinos dos primitivos
Macabeus. A
história dos Hasmoneus chegou ao fim por causa de um Antipater, governador da
Iduméia, que encorajou Hircano, no exílio, a
remover seu irmão do ofício. Com ajuda de um governador árabe, Aretas III, ele
atacou Aristóbulo em Jerusalém. Foi nesse momento que Roma decidiu interferir
nas questões da Palestina. Pompeu enviou seu
general, Scaurus, para sufocar o
levante e ele, mediante suborno, apoiou Aristóbulo. No ano de 63 a.C, o próprio Pompeu, temendo os desígnios de Aristóbulo,
atacou Jerusalém e a conquistou, entrando pessoalmente no Templo e no Santo dos
Santos. Aristóbulo foi levado cativo para Roma. Hircano foi confirmado no Sumo Sacerdócio e
designado etnarca da Judéia, então acrescentada à província da Síria.
Herodes
e os Romanos
A
política de helenização que Herodes
empreendeu era devida, pelo menos em parte, à própria natureza de seu reino,
que abrangia muitas cidades gregas e incluía inúmeros gregos entre os cidadãos.
Ele fez pouco uso do Sinédrio judeu
e em seu lugar estabeleceu um conselho real nos moldes helenísticos; substituiu
a antiga aristocracia hereditária por uma nova aristocracia de serviço e elevou
essa nova classe de acordo com as práticas helenísticas. Herodes luta com decisão para consolidar o seu poder. Ele elimina, através
de assassinatos, seus adversários, inclusive alguns membros de sua família. Consolidado
o poder, constrói obras grandiosas na Judéia. Templos, teatros, hipódromos,
ginásios, termas, cidades, fortalezas, fontes. Reconstrói totalmente o Templo
de Jerusalém. Valorizando o culto, Herodes Magno ganha para si o povo.
Construindo fortalezas, controla possíveis revoltas. Matando seus inimigos,
seleciona seus herdeiros. Apoiando a cultura helenística, aparece diante do
mundo. Servindo fielmente a Roma, conserva-se no poder. Entretanto, Herodes não
tem legitimidade judaica, pois descende de idumeus. Assim, por ser estrangeiro,
não tem para com os judeus nenhuma relação de reciprocidade e sua legitimidade
se funda na própria estrutura do poder exercido. Por isso, Herodes constrói uma
estrutura de poder independente da tradição judaica: nomeia o sumo sacerdote do
Templo, destituindo os Asmoneus e nomeando um sacerdote da família sacerdotal
babilônica e, mais tarde, da alexandrina; exige de seus súditos um juramento
que obriga a pessoa a obedecer às suas ordens em oposição às normas patriarcais
e se a pessoa recusar o juramento seria perseguido.
Enfim a batalha entre o judaísmo e o helenismo havia terminado e por todas as aparências a batalha
fora perdida. Mas, assim como o helenismo não
se pôde resistir apenas pela força, assim também o judaísmo não pôde ser extinto
pelo poder das armas. O Estado judeu caiu, mas o judaísmo prevaleceu, porque
quando a conquista foi negada e o acordo proibido, ao contrário do cristianismo,
que se expandiu para o mundo helenístico para "pensar melhor, viver melhor
e morrer melhor" os pagãos, o
judaísmo escolheu para si o caminho da separação. Esse passo significativo foi
dado por Jonatas ben Zakkai que, enquanto a batalha assolava a vida de Jerusalém,
pouco antes de sua queda, partiu para a cidade de Jamina no litoral da
Palestina e fundou uma escola que iria marcar o início de uma nova era para o
povo judeu. Eles já não tinham Jerusalém; eles já não tinham o Templo; mas lá
em Jamina eles tinham o estudo da sagrada Lei de Deus, e isso para eles era
mais do que a própria vida. Por ela seus pais haviam lutado e morrido; por ela
seus filhos iriam viver.
O povo do livro
A religião da Torah
A palavra Torah é amplo para indicar
a revelação divina, escrita e oral baseados na qual os judeus possuíam o padrão
e a norma singulares de sua religião. A palavra significa "instrução"
ou "ensino" e indica a revelação dada por Deus a Israel por meio de
seu servo Moisés. A palavra é traduzida como Lei, mas isso pode trazer um
equívoco, porque seu significado está mais próximo de revelação do que de
legislação. Mas, uma vez que essa revelação encontra expressão escrita no
Pentateuco, o nome Torah é aplicado comumente aos cinco livros que Moisés
escreveu. Em todo o periodo de antíoco o judaímo estava arraigada e fundamentada na Torah. Ou seja, ela se
tornou o simbolo da fé dos judeus.
Do templo à Torah
O papel exercido pelo ensino oral dos escribas foi muito significante no
preparo das pessoas para os anos atribulados que se seguiriam, nos quais a
influência da cultura helenística começou a se fazer sentir muito. Havia
escribas que organizavam reuniões semanais não só em Jerusalém, mas nas cidades
e aldeias próximas, nas quais liam a Torah publicamente e explicavam seus
ensinamentos; por um lado eles prepararam o caminho para aqueles ofícios, e aos
escribas e seus sucessores é atribuído muito do crédito pelo desenvolvimento
dessa instituição vital para o judaísmo. Na morte de Simão, o Justo, cerca de 270 a.C, a
influência dos escribas ou soferins declinou, mas há evidência de que após essa
data um conjunto de homens, principalmente leigos, continuou a aplicar-se reservadamente ao estudo da Torah. Mais tarde tornou-se a ser conhecida
como Sinédrio, um tribunal composto de membros sacerdotes e leigos que se
dedicava à regulamentação das questões religiosas. Assim, muito tempo antes da
Revolta dos Macabeus, as pessoas comuns haviam sido instruídas na fé e haviam
aprendido a aplicar a religião à vida cotidiana na nova situação e condições que
se formavam na Palestina. A Torah passou a ser o centro da atenção, ocupando um
lugar cada vez mais significativo na vida devocional de muitos que, por causa
das dificuldades daqueles tempos ou por causa da dispersão, longe de Jerusalém,
não podiam oferecer sacrifícios no Templo Sagrado.
Diz os estudiosos que ouve uma troca de valores na metade do século IV a.C.
e a Revolta dos Macabeus em 167 a.C, ocorreu uma transferência sutil de ênfase,
do Templo para a Torah, o que ainda seria de grande importância para a
sobrevivência do judaísmo. Mas foi na era dos macabeus que essa mudança foi
mais notável, porque nessa época a Torah havia se tornado o símbolo visível da
fé judaica. O triunfo da Revolta dos Macabeus e o desenvolvimento das sinagogas
e das escolas, tanto em Jerusalém como na Dispersão, aumentou ainda mais a
reputação da Torah. A Torah da Sinagoga não estava, em nenhum sentido, em
oposição ao ritual do Templo, mas nutriu uma religião pessoal profunda — algo que os
ritos do Templo não eram capazes de fazer. E assim, chegou um momento em que o
registro escrito pôde tomar o lugar dos atos litúrgicos nos afetos do povo. Isso explica por que, apesar da destruição do Templo em 70 d.C, o
Judaísmo conseguiu sobreviver. O ritual do Templo havia sido substituído pela
reverência para com a Torah; o sacerdote havia sido substituído pelo rabino;
o Templo fora suplementado pela sinagoga. Depois disso, o judaísmo passou a
ser, essencialmente, a religião do livro.
O ponto de levante da revolta
A Torah foi o principio de nacionalismo judaico, tanto no
período dos Selêucidas como no dos
romanos: em cada um ela tornou-se o ponto de levante da revolta. Por exemplo,
no tempo de Antíoco TV, desafiou
o poder dos sírios em Modein, ele clamou em alta voz ao povo: "Quem for
fiel à lei e permanecer firme na Aliança, saia e siga-me" (I Macabeus
2.27). Um apelo ao Templo teria reunido uma parte do povo; mas um apelo à Torah
tinha mais chance de reunir todo o povo; e, mesmo que nem todos respondessem,
todos estavam envolvidos, porque toda a nação reverenciava a Torah como
revelação e vontade declarada de Deus. Os inimigos dos judeus foram rápidos em
reconhecer a confiança que devotavam à Torah e o entusiasmo com que se
levantavam em sua defesa. E assim a Torah tornou-se o foco do ataque contra o
judaísmo. Atacar a
Torah significava atacar o próprio judaísmo; defender a Torah era defender a fé
de seus pais.
A Revolta dos Macabeus foi uma convocação para se levantar em defesa da
Torah que era, para os judeus, a própria incorporação da religião deles. O
desafio do helenismo não era simplesmente uma questão de política ou estética
ou moral ou cultura; era um golpe desferido contra as próprias raízes da fé
judaica, que era fundamentada na Torah sagrada, e a ele se deveria resistir com
todas as forças. A Revolta dos Macabeus, embora alcançasse uma grande vitória,
não resolveu a questão de uma vez por todas. A nação judaica ainda estava
rodeada pela cultura helenística e devia, de alguma forma, estabelecer suas
relações com seu ambiente. Durante o tempo dos Hasmoneus, em particular o
desenvolvimento das sinagogas e das escolas, em ambas as quais o ensino era
ministrado com base na Torah sagrada, ajudou grandemente a impedir a
infiltração do helenismo na vida da nação. Mas com o advento de Roma,
influências helenistas começaram a se firmar novamente de formas mais
declaradas e tiveram que ser rechaçadas. A batalha teve que ser enfrentada por
toda parte novamente, e mais uma vez a Torah foi o ponto de encontro da
revolta.
Tanto no caso dos Selêucidas como no caso dos romanos, os inimigos dos
judeus foram rápidos em identificar o centro da lealdade deles, e então ataques
e mais ataques eram lançados contra a Torah.
A santa aliança
os judeus demonstravam pela Torah não somente zelo por um Livro, mas pela
Aliança feita por Deus na qual ele havia separado a nação judaica para ser seu
povo particular. Menosprezar a Torah era trair a Aliança que Deus havia feito
com seus pais. Isso ajuda a explicar a lealdade fanática que muitos judeus
demonstravam para com os ritos de sua fé ao longo daqueles dias difíceis. Por exemplo,
A circuncisão, um sinal de que um homem era um membro da Aliança, e quem
nega-se sujeitar-se à circuncisão era negar completamente a Aliança. Comer carne
de porco era fazer o que a Torah proibia, e assim a isso se devia resistir sob
a penalidade de morte. O Sábado sagrado era uma marca da Aliança que o Helenismo
procurou profanar; os judeus observavam isso tão
rigorosamente, que muitos deles preferiam a morte a levantar os braços, mesmo
para se defender, no dia do Sábad. A Torah era inflexível em sua
proibição de idolatria de qualquer tipo ou forma; daí o ódio amargo dos judeus
por qualquer coisa que lembrasse o culto ao Imperador; daí também sua violenta
oposição àquelas construções em estilo grego, decoradas com figuras idólatras
de arrimais e homens; até mesmo os troféus que adornavam os teatros eram
olhados por muitos como imagens, e então, eram anátema para os judeus, que adoravam um
"Deus ciumento" que não toleraria nenhum rival ao seu trono.
A Torah e as seitas
O Judaísmo tinha dentro de si mesmo muitos partidos, grupos e seitas
diferentes, cujas as crenças nem sempre ficaram registrados na história. Josefo
declara que os judeus tiveram, por um grande período de tempo,
três seitas de filosofia - os Fariseus, os Saduceus e os Essênios, aos quais ele acrescenta
o partido dos Zelotes. Esses
partidos foram muito influentes dentro do Judaísmo durante esse período.
Calcula-se que Fariseus, Saduceus e Essênios
juntos somariam apenas trinta mil - trinta e cinco mil de um total de
quinhentos mil - seiscentos mil no tempo
de Jesus. Os Fariseus somariam aproximadamente cinco por cento da população
total e os Saduceus e os Essênios
juntos, aproximadamente dois por cento.
Os
fariseus
Os fariseus já existiam no tempo
de Jonatas, Eles exerceram uma grande influência por um período de cerca de
três séculos e fizeram mais do que qualquer outro partido para determinar a
forma de Judaísmo nos anos seguintes. Sua ascendência espiritual pode ser
traçada até os Hasidim que, ao apoiarem os Macabeus, haviam dado sanção
religiosa à proposta de liberdade destes. Eles não constituíam um partido
político, mas essencialmente uma seita religiosa, originados em grande parte da
classe média da sociedade, que gradativamente passou a ocupar uma forte posição
religiosa e social na comunidade. Em todo esse período, eles se
levantaram como um guardião contra a invasão do helenismo, demonstrando serem
os defensores valentes da religião da Torah. Eles faziam da Torah que os
distinguiam da maioria de seus oponentes, ou seja, os saduceus. Os fariseus
criam que a lei oral devia ser considerada como de igual autoridade que a Torah
escrita, mas os saduceus consideravam a autoridade sagrada da Torah escrita
como completamente acima e separada das novas tradições e observâncias.
O principal instrumento para propagação da Torah era a sinagoga que se
tornou uma instituição mais poderosa dentro de Judaísmo, não apenas em
Jerusalém mas também por todas as regiões da Dispersão. A leitura da Torah
acompanhada de uma tradução interpretativa no vernáculo tornou-se uma característica distintiva dos ofícios das sinagogas.
O farisaísmo tinha um caráter legalista, e que o legalismo pode facilmente conduzir ao formalismo, e o
formalismo ao externalismo e à irrealidade, defeitos que se revelaram no
decurso do tempo em pelo menos algumas fases do farisaísmo. Mas, apesar disso,
os fariseus criaram um espírito de verdadeira piedade e devoção que afetou profundamente as vidas das pessoas, e desenvolveram uma vida devotada à
Torah.
Os saduceus
Os
fariseu pertenciam à classe média, e os saduceus eram representados pela rica
aristocracia e particularmente pelo poderoso sacerdócio em Jerusalém. A maioria
deles eram sacerdotes. Muitos deles eram comerciantes ricos, funcionários do
governo e outros patamares de grau elevado. Os fariseus, acreditavam na
supremacia da Torah, mas ao contrário dos fariseus; os saduceus se recusavam a
reconhecer a autoridade vinculante da lei oral. Eles tinham suas próprias tradições
e costumes e seus próprios rituais e leis.
Para
os fariseus a Torah era o centro de sua fé, para os saduceus era a
circunferência dentro da qual podiam ser nutridas convicções e práticas
estranhas ao judaísmo. Daí a habilidade deles para inserir dentro de seu
sistema muitas influências helenísticas que eram odiosas a seus companheiros
judeus.
Os Essênios
Essênio deriva de uma palavra aramaica que significa "santo" ou
"piedoso". O historiador
romano Plínio fala sobre um povo com esse nome que formava uma comunidade
asceta firmemente unida, que
vivia perto da costa ocidental do Mar Morto. Josefo e Philo oferecem informações adicionais de
que havia cerca de quatro mil essênios que, em sua maior parte, vivia em
aldeias, embora alguns deles vivessem em cidades. Esses últimos eram, sem
dúvida, considerados por seus irmãos como membros associados da comunidade que
vivia em regiões desérticas, sob uma
disciplina mais rígida. Eles se dedicavam muito tempo ao estudo e interpretação
da Torah e de outros livros sagrados. Josefo nos fala que eles estudavam
intensivamente as Escrituras e indica que certo número deles era capaz de
predizer o futuro através da leitura dos livros sagrados. A Torah escrita e seu
estudo formavam a base da vida comum deles e era a inspiração de seu movimento.
Em sua perspectiva religiosa, eles tinham muito em comum com os fariseus, mas
em alguns aspectos, pelo menos, pareciam ser bem mais rígidos do que aqueles na
interpretação da Torah.
Os zelotes
Os zelotes são os herdeiros dos Macabeus. Eles são descritos por
Josefo como bandidos e ladrões. os zelotes eram uma companhia de patriotas judeus
motivados por profundas convicções religiosas. E Josefo descreve os sucessivos
líderes do movimento dos zelotes pela palavra "sofista", que bem pode indicar que dentro do partido havia um programa planejado de
ensino que ia além do interesse meramente político que Josefo insinua. A
oposição dos essênios em Roma estava arraigada em seu zelo para com a Torah.
Foi esse zelo que gerou seu patriotismo e fanatismo, o que fez que passassem a
ser temidos tanto pelos amigos como pelos inimigos. Josefo continua dizendo que
eles tinham "uma fixação inviolável pela liberdade"; eles se
recusavam a chamar qualquer homem de "senhor" ou pagar tributo a
qualquer rei, pois Deus era seu único Rei e Senhor; desprezavam a dor e davam
pouca importância à morte; nem sequer o sofrimento de parentes e amigos os
demovia de seu propósito. Por trás de tudo isso estava sua devoção apaixonada
pela Torah, pela qual eles estavam dispostos não apenas a lutar, mas quando
chamados, até mesmo a sacrificar suas vidas.
Os pactuantes de Qumran
Houve muitas opiniões e controversias a respeito à descoberta desses rolos
do Mar Morto em relação à identidade da comunidade de Qumran. Alguns estudiosos
têm argumentado a favor de uma data pré-macabeus, e outros por uma
identificação com os zelotes no primeiro século d.C.. Nesse mesmo período há
evidências de uma grande comunidade de essênios e uma comunidade igualmente
grande de Pactuantes, ambas vivendo ao redor do Vádi Qumran, e a
indicação é de que eles provavelmente formavam uma única comunidade. Essa
convicção é fortalecida por uma comparação dos costumes, ritos e crenças dessas
duas seitas que indica que eles pertenciam ao mesmo tipo geral. Como os
essênios, os pactuantes tinham muito em comum com os fariseus, mas eram mais
rígidos do que eles na interpretação da Torah, como, por exemplo, na
observância do dia do Sábado. Eles acreditavam que sua fidelidade como
remanescente representativo de Israel, causaria uma expiação vicária para sua nação e ajudaria a anunciar
a nova era de que os profetas haviam falado. Essa fidelidade encontrou sua
expressão no estudo meticuloso e na prática da lei, e foi com esse propósito
que eles foram os primeiros a se retirarem para o deserto da Judéia.
Na profecia de Habacuque, os pactuantes viam uma predição dos dias que eles mesmos estavam então vivendo. O fim
estava próximo. O "mistério" (hebraico: raz cf. Dn 2.18, etc.) que foi transmitido por Deus a Habacuque, mas cujo significado foi dele
escondido, recebeu sua interpretação (hebraico: pesher) pelo Mestre da Justiça, que
demonstrou que a antiga profecia fora escrita com referência, não ao passado,
mas às pessoas e aos acontecimentos de seus próprios dias. Entre os escritos
encontrados no Qumran há um chamado A
Guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas onde são descritos planos
para a execução de uma Guerra Santa que conduziria ao tempo do fim. Parece
certo que, na ocasião da guerra com Roma (66 d.C), segundo o espírito desse
livro, os Pactuantes foram prontamente favoráveis aos zelotes e, como
resultado, suas instalações em Qumran foram destruídas, como as evidências
arqueológicas indicam, em 68 d.C. E se, como parece provável,
eles devem ser identificados como um ramo dos essênios, isso explicaria o
relato de Josefo, segundo o qual naquela época muitos dos essênios foram
cruelmente torturados.
As seitas do judaísmo diferiam umas das outras em muitos
aspectos; contudo, à exceção dos
saduceus,
elas eram unidas por uma única coisa em sua luta contra o inimigo comum; não
era a devoção pelo partido nem mesmo pela pátria, mas pela Torah sagrada e pela
santa Aliança do Senhor seu Deus.
Edificante.
ResponderExcluirMuito esclarecedor
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